Estive embebido por um tempo na máxima de que a finalidade do mundo, da vida, é o conhecimento, recebido da fonte espiritualista de Farias Brito. Descobri depois que o grande filósofo cearense havia buscado em fontes aristotélicas seu preceito. O que não desmerece o pensador brasileiro, mas o engrandece ainda mais.

Trilhando o caminho da história e da cultura alguns autores falaram mais profundamente que outros, e nesse caminho, que pretendo trilhar com esse pequeno texto.

Sem pretender assumir a postura de crítico ou o que o valha, a intenção, é apresentar seguindo a seara de Jackson de Figueiredo, em seu brilhante “Iluminados e Luminosos”, algumas figuras pouco conhecida dos leitores contemporâneos. O que não é uma tarefa difícil, tendo em vista, a ignorância que temos assumido, inclusive em relação aos clássicos de nossa literatura.

Mas caminhemos.

Temos perdido em profundidade, sobretudo, em precocidade, pois nessa sociedade de mimados, que nos furta dos gênios juvenis, como o caso de um Gilberto Freyre, em sua gana por leitura de todo um manancial de pensadores, isso antes de atingir a maioridade ou do brilhantismo de um Alvares de Azevedo que nos legou uma poética densa do romantismo ainda no desabrochar da juventude. E ainda, o nosso grande Hugo de Carvalho Ramos, que nos brindou com “Tropas e boiadas”, uma das mais belas obras do regionalismo nacional, um esplendor de retrato da mística e da espiritualidade do sertão em forma literária.

Mas esses são os grandes em alguma medida, como o foi Miguel Reale e Alberto Torres e tantos outros de significativa contribuição para a formação de uma geração, ou de incentivo direto a seus pares em um dado momento.

O grande poeta de Cristo, Tasso da Silveira, em seu brilhante “Definições do Modernismo Brasileiro”, de 1932, vai desfolhando com maestria o contexto literário de nosso ambiente cultural, na segunda dezena do século XX, e nos apresenta um universo de literatos a se conhecer ou se aprofundar. Que de certa forma não deixa de causar uma angústia pela avalanche de nomes e obras, que pela crítica positiva que o paranaense nos desperta os melhores desejos de busca, mas são autores que tiveram sua significação naquele contexto, e hoje, totalmente fora dos catálogos das editoras.

Outra obra que nos traz um que de inquietação e nos aumenta o desejo de busca por autores – pelo menos foi essa a sensação que me causou – é o belo livro de Gumercindo Rocha Dorea, “Ora, direis… ouvir „orelhas‟ que falam de livros, homens e ideias”. Recebi essa pequena obra do editor em 2003 e logo lhe encaminhei uma carta (ainda existia carta em 2003), dando-lhe conta que tinha acrescido muito em minha lista de obras a adquirir. Trata-se de uma coletânea de textos para orelhas de livros compostas pelo editor (GRD), produzida em 46 anos de trabalho editorial, até aquele momento da edição desse livro, que é de 2002.

Nele, Gumercindo Rocha Dorea revive parte de seus escritos para orelhas de seus livros editados de 1960 até 2002 e vai despertando o interesse pelos autores e obras, alguns desconhecidos para mim, mas despertados pela leitura de GRD – mesmo que ele diga que não tinha essa intenção quando compôs essa edição. Mesmo não sendo intencional, prestou um bom serviço aos seus leitores, que além de se deleitarem com a bela escrita, receberam uma boa lista de livros e autores.

Nem sempre a coisa vem mastigada assim, há momentos que muito por acaso nos vem um livro ou autor que são como um despertar para nossa consciência.

Mas há, também, aqueles que vêm uma, duas, três vezes e são ignorados, até que algo totalmente fora de contexto nos obriga a tomar contato com eles e um insait arrebata a consciência, é o momento de identidade, de comunhão, de parceria com o autor, com a obra – um deleite compartilhado. Essa sempre me foi a boa leitura. Não que eu seja um leitor voraz.

O médico José Normanha de Oliveira foi algo assim, indicado como dono de uma boa biblioteca, foi para mim algo muito maior. Sua poética, suas reflexões filosóficas, sobretudo em seu “O Homem como ideia e Realidade”, são algo valioso produzido nos sertões dos goyazes.

E por falar nesse nosso Brasil Central, de tão boa e vasta produção literária, era preciso que viesse um Jackson de Figueiredo, um Gumercindo Rocha Dorea, ou mesmo um Carlos Drummond de Andrade – que levantou para o mundo o nome de nossa poetisa Cora Coralina – para por em evidência os nomes de um A. G. Ramos Jubé, o poeta de “Lira Vilaboense”, resgatar a folclorista Regina Lacerda, ressaltar o regionalismo vibrante de Carmo Bernardes, de Bariani Ortêncio e do nosso acadêmico maior, Bernardo Elis, que produziu em boa parte de sua literatura, sobretudo, em seu conto “A Enxada”, o melhor do realismo literário.

Outra pessoa pouco reconhecida como literato é o ex-governador por Goiás, senador da república, Irapuan Costa Junior, que em seu “Teimosas Lembranças” produziu um deleite ao manejar sua aguçada escrita.

O poeta Gerardo Mello Mourão, autor do reconhecido e belo poema épico “Invenção do Mar”, tem um livros dos melhores trilhados por minhas mãos, se trata do “A Invenção do Saber”, em que a maestria do poeta expõe temas, autores e obras.

Em se tratando de edificação não poderia deixar de apontar a majestosa obra de Plínio Salgado, sobretudo, seu brilhante “Palavra Nova dos Tempos Novos” ou o belo “Contra-Revolução Espiritual” de Tristão de Athayde e ainda o revelador “Destino do Socialismo” de Octavio de Faria.

Existem livros, autores, que nos são importantes, pois em um dado momento nos despertam para algum significado ou simplesmente nos propiciam prazer. Assim me foi “O Homem Integral e O Estado Integral” de Sacerdos, “Farias Brito e a Filosofia do Espírito” de Alcântara Nogueira, “A Ilusão Americana” de Eduardo Prado, “Uma Nova Idade Média” de Berdiaeff, “Brasil Colônia de Banqueiros” de Gustavo Barroso e o irreverente “De Totó Caiado a Pedro Ludovico” de Joaquim Rosa, “O Caminho das Boiadas” de Léo Godoy Otero, “O Imbecil Coletivo” de Olavo de Carvalho, ou o “De Como Fazer Filosofia Sem Ser Grego, Estar Morto ou Ser Gênio” de Gonçalo Armijos Palácios e ainda “As Confissões” de Santo Agostinho.

Todos em alguma medida informam, dão prazer, edificam, alguns são conhecidos outros quase anônimos, mas todos valem muito a pena.

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Por Cleiton Oliveira – Graduado em História, especialista em História do Brasil, professor da rede estadual de ensino do Estado de Goiás, pesquisador da história e cultura goiana.

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