Primeiro nós temos que entender que os “antifa históricos” consideravam como “fascismo” algo bem diferente do que os “antifas contemporâneos” consideram.

Historiograficamente falando, ao contrário da “Internacional Socialista” (Komintern) não existiu um Fascismo internacional, embora alguns partidos nacionalistas da época, incluindo o fascista italiano, tivessem tentado isso.  Por isto, acreditamos que dar uma alcunha de “fascismo” a algo além do movimento italiano de Mussolini é mais um ato propagandístico, do que científico. Quem quiser ir mais à fundo no assunto, que pesquise sobre as “vulgatas marxistas”.

Mas, ok… Vamos tratar o termo “fascismo” como os antifas querem, como um “adjetivo/pejorativo”, para ficar mais fácil a compreensão do movimento que teria surgido como sua antítese, portanto, contrário a este.

Entre os “antifas históricos”, estavam anarquistas e socialistas de diversas tonalidades, como os trotskistas e os leninistas, por exemplo. Justiça seja feita, às vezes também juntamos todos num campo ideológico só e, embora suas divergências sejam grandes, estes são classificados simplesmente como “comunistas”.

O segundo passo é entender que o antifascismo não surge antes do fascismo. O que ocorreu, foi justamente o contrário. O anarquismo e o socialismo já se verificavam no fim do século XIX no país. Já o Partido Comunista Brasileiro se formalizou em 1922.

Somente dez anos depois, em 7 de outubro de 1932, surgiu o Integralismo Brasileiro, que alegaram ser o “fascismo brasileiro”. Não vou entrar neste debate, se era ou não um fascismo, mesmo porque nada faria um antifa deixar de acreditar nisso. O importante aqui é frisar estas datas, pois de fato, o socialismo/comunismo não surgiu como antítese ao fascismo. Foi justamente o contrário. O fascismo surgiu como reação ao Comunismo. O Comunismo surgiu como antítese ao Capitalismo, sistematizado e combatido por Karl Marx.

Mas porque os integralistas foram considerados fascistas? Primeiro porque o partido fascista italiano no Brasil nunca foi muito forte. Os italianos estavam integrados na sociedade brasileira, e, o máximo que mantinham eram pequenas reuniões ou suas festas nos clubes beneficentes, onde não costumavam celebrar Mussolini, mas seu rei, Vítor Emanuel III. Segundo, porque usavam exterioridades comuns a todos os partidos nacionalistas de então: uniformes, marchas, símbolos, canções, e uma saudação própria, ritos e protocolos. Apesar de terem uma doutrina própria, legitimamente nacional, isso pouco importava aos seus inimigos.

E porque foram inimigos? Porque conseguiam adeptos justamente entre os menos favorecidos, operários e camponeses. Deu voz a mulheres e aos descendentes de escravos. Ambos os partidos, comunista e integralista, também desejavam um partido único. Como em uma dança de cadeiras, dois disputavam um só lugar.

Nem comunistas, nem integralistas, tiveram facilidade para ampliar seus seguidores em um país predominantemente analfabeto. Os integralistas, entretanto, chamavam muito a atenção, com seus membros marchando pelas vilas, trajando seus uniformes para atrair a atenção, em uma época em que praticamente só as festas religiosas ou cívicas eram o entretenimento nacional.

Notando isto, e seguindo a diretriz do Komintern para mobilização constante de seus adeptos, o Partido Comunista do Brasil então organizou o “Comitê Antiguerreiro”. Por sua vez, os anarquistas formaram o “Comitê Antifascista”. Já os trotskistas e outros socialistas fundaram a “Frente Única Antifascista”. Os nomes são uma propaganda em si. Não representam nada além de uma força contra outra a qual são contrários. Estes são os que vamos chamar de “antifas históricos”. Estes grupos eram formados por estudantes, intelectuais, operários e camponeses, em sua maioria.

Obviamente que não eram somente estes os “antifascistas” da época. Os integralistas não poupavam críticas a quem quer que fosse, e, consequentemente ganharam a antipatia de liberais, conservadores, sindicalistas, maçons, que também se uniam nas críticas e manifestações contra os integralistas. Vale ressaltar que as maiores perseguições foram por parte de membros do Estado varguista, como governadores e prefeitos, que representavam oligarquias locais.

As brigas de rua e discussões começaram no ano seguinte a sua formação do movimento integralista. Mas o ápice da turbulência entre os antifascistas e os integralistas ocorreu em 7 de outubro de 1934, quando um grupo se formou para atacar uma manifestação do partido integralista, que comemorava dois anos de existência. Quando estes desfilavam, ostentando seu uniforme: as famosas “camisas verdes”, receberam tiros de diversos pontos, vindos de prédios vizinhos. Muitos integralistas fugiram, outros enfrentaram os atiradores.

Esta foi a chamada “Batalha na Praça da Sé”. Na verdade uma tocaia onde pessoas armadas atiraram contra os integralistas. O saldo foi de sete mortos e pelo menos trinta feridos. Entre os mortos, um “antifa”, três integralistas e três membros das forças de segurança pública de São Paulo.

Na época, diferente do que vemos hoje em dia, os jornais liberais ou conservadores foram até parciais com os integralistas, que, justiça seja feita estavam apenas celebrando uma data. O jornal O Globo, por exemplo, entrevistou um dos líderes integralistas que disse que: “O pânico foi só entre o povo. Os integralistas continuaram firmes onde estavam. E aqueles que tinham armas, deitaram-se respondendo ao fogo dos comunistas”.

Entretanto, a imprensa socialista considerava uma vitória da frente ampla, e chamaram os integralistas de “galinhas verdes”, pois as fotos deles se protegendo ou fugindo dos tiros estamparam as primeiras capas de jornais. E até hoje prevalece a versão dos socialistas.

Um ano depois, em 1935, inflados com o que consideraram uma vitória, os comunistas haviam notado que, entretanto, sua ideologia não se tornara popular. Com o reconhecimento da Internacional Socialista (Komintern) receberam dois agentes treinados (Luiz Carlos Prestes e Olga Benário), que ajudaram na articulação de uma frente ampla antifascista: a Aliança Nacional Libertadora (ANL). Falei anteriormente, e vou ressaltar novamente: este conceito de “libertadora” faz parte da vulgata marxista, não tem bem o significado que conhecemos.

A ANL se precipitou e tentaram naquele ano um levante em três estados, um movimento considerado heroico, mas que foi somente um fracasso. Os comunistas foram presos ou se exilaram, e passaram para a clandestinidade.

Incapazes de chegar ao poder pelo voto, os antifascistas demonstravam seus métodos violentos, e, sob pressão e constante perseguição da polícia política, perderam qualquer chance de crescerem.

Já o Integralismo, justamente após a “Batalha na Praça da Sé”, ao contrário do que os “antifas” apostavam, cresceu e formou o primeiro partido político a nível nacional na história do Brasil. Elegeram vereadores, prefeitos e deputados, e lançaram seu líder, Plínio Salgado, como candidato à presidência. O movimento só foi interrompido pelo ditador Getúlio Vargas em seu autogolpe de 1937, quando implantou o Estado Novo.

Alguns anos depois, a Alemanha sob o nazismo invadiu militarmente países vizinhos eclodindo a Segunda Guerra Mundial. A Alemanha recebeu o apoio do Partido Fascista italiano, e de outros partidos nacionalistas, que lutaram em diversas frentes de batalha. Sob ataque a União Soviética se tornou aliada dos Estados Unidos, da Inglaterra, da França em 1 de janeiro de 1942, no grupo Nações Unidas, berço da ONU.  No ano seguinte, o Brasil também se tornou um dos – chamados – “aliados”. Com o fim das hostilidades e com a vitória aliada, a imagem do Comunismo era muito positiva entre os insatisfeitos com o próprio Estado Novo, uma ditadura personalista que se assemelhava com os “fascismos” europeus.

Com a deposição de Getúlio Vargas, o Partido Comunista Brasileiro foi reorganizado em poucos meses, mas lançou um candidato próprio às eleições para a presidência da República. Este obteve impressionantes 569.818 votos (9,71% do total). Apesar de não terem elegido nenhum senador, os comunistas elegeram 14 deputados federais, se tornando a quarta maior bancada. Para se ter ideia, os integralistas, que se reorganizaram discretamente no Partido de Representação Popular, conquistaram apenas duas cadeiras.

De lá para cá, muita coisa mudou. Começou a Guerra Fria, os comunistas passaram para a clandestinidade novamente.  O Regime Militar no Brasil, de 1964 até 1985, desmobilizou a direita, mas, com atos autoritários alimentaram o discurso da terceira onda socialista no Brasil. Esta teve seu ápice com a vitória de Luis Inácio Lula da Silva e a consolidação do PT como força política. O próprio conceito de fascismo e de comunismo foi sendo corrompido, não mais pela “vulgata marxista”, mas pelas resignificações da novilíngua da esquerda e hoje não vemos intelectuais, operários ou camponeses entre os “antifas”. Estes descendem mais dos movimentos anarco-punks sem perspectivas de vida da década de 1970, do que dos anarquistas, socialistas e comunistas da década de 1930.

Hoje os “antifas” são progressistas contra “fascistas” imaginários, que na verdade são conservadores ou liberais.

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por Marcus Ferreira – Bacharel e licenciado em História, pesquisador do Integralismo Brasileiro no Centro Cultural Plínio Salgado entre 1998 e 2001. É autor dos livros O Integralismo na cidade de Matão: Oswaldo Tagliavini e sua máquina de idéias” e “Para que o Brasil continue”. Disponível na Amazon: https://amzn.to/2XviT2I

1 COMENTÁRIO

  1. O Integralismo, através de Gustavo Barroso, mais que seu idealizador Plínio Salgado, serviu para desvendar os aspectos mais tenebrosos do “Mistério da Iniquidade” e sua influência na derrocada sócio econômica da civilização cristã ocidental, intensificada com o terror a partir da revolução de 1.789, no mundo, e, no Brasil, a partir do golpe sangrento cem anos depois, em 1.889. Derrubar altares e tronos foi a estratégia empregada para atingirem seus nefandos propósitos, portanto, restaurar as monarquias católicas é a forma mais coerente de se contrapor a essa ação diabólica de nossos inimigos, de Deus e dos homens. É no que nós, monarquistas, estamos empenhados com grande sucesso, contando inclusive com o apoio de muitos integralistas como ocorre aqui, em Campinas, o centro por excelência na difusão do pensamento, seja por sua posição estratégica como encruzilhada do Peabiru e por ser a cidade com o maior índice de estudantes universitários muito visados como vítimas do envenenamento mental promovido pelos esquerdopatas. Anauê!

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