Oscar Pereira da Silva - Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, 1500, Acervo do Museu Paulista da USP

Seria longo enumerar as datas relativas aos acontecimentos que constituem a História do Brasil. O grande brasileiro Barão do Rio Branco, num grosso volume intitulado ”Efemérides”, apresenta, em sucessividade cronológica, todos os fatos ocorridos no decurso de nossa vida nacional. Recomendamos aos jovens a sua leitura e consulta, sempre que esta se torne necessária.

Aqui, iremos tratar apenas das datas principais, algumas consagradas oficialmente pelos feriados decretados pelo Governo; outras, também da maior importância, mas não inscritas no calendário oficial.

Começaremos pelo Descobrimento do Brasil. O primeiro contato dos portugueses com a natureza e a gente da terra de Santa Cruz foi a 23 de abril de 1500. Em virtude da correção do calendário, em 1582, esse aniversário se deve celebrar a 3 de maio. Assim afirma Varnhagem, Visconde de Porto Seguro, em sua ”História Geral do Brasil”.

A carta de Pero Vaz Caminha, que é a certidão de batismo de nossa Pátria, informa haver sido a nossa terra percebida a 21 de abril, mediante ‘‘alguns sinais de terra, os quais heram muita cantidade d’ervas compridas”, e acrescenta: ”a quarta feira seguinte, pela manhã, topamos aves”, e, neste 21 de abril, ”a oras de vésperas ouvemos vista de terra, a saber: primeiramente um grande monte mui alto e redondo, e doutras terras mais baixas, ao sul dele, e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitan poz nome de monte Pascoal e à terra de Vera Cruz”.

Além de coincidir o 3 de maio com o 23 de abril do calendário juliano, o dia de Santa Cruz coincide com a própria denominação da terra chamada de Vera Cruz e posteriormente Santa Cruz. E mesmo que a diferença entre os dois calendários haja sido de doze e não de dez (argumento que Afrânio Peixoto usa contra Varnhagen), ainda assim teríamos a data de 3 de maio, contados os dias não do primeiro contato, mas dos primeiros sinais de terra, a 21 de abril, consoante a narrativa de Vaz Caminha.

De qualquer modo, o três de maio é a data em que devemos celebrar o descobrimento de Nossa Pátria, o que fazemos com o pensamento voltado para a Cruz do Redentor, sinal do nosso destino histórico, de três maneiras presente no dia do nascimento do Brasil: no pano das caravelas, na Cruz de madeira tirada das nossas florestas, e na Cruz de estrelas, que fulgia no céu tropical. Sob a égide dessa trindade de cruzes, como a evocar o mistério de Deus Uno e trino, Pedro Alvares Cabral batiza a nova terra com o nome da Cruz.

Lamenta João de Barros (”Década”, Livro V, cap. II) que o nome primitivo de nossa Pátria, tendo sido de Santa Cruz, haja sido mudado para o de Brasil e assim se exprime: ”… como o demônio, pelo sinal da Cruz, perdeu o domínio que tinha sobre nós”, ”tanto que daquela terra começou de vir o páu vermelho, chamado brasil, trabalhou que este nome ficasse na boca do povo e que se perdesse o de Santa Cruz, como que se importa mais o nome do pau que tinge panos do que aquele que deu tintura a todos os Sacramentos”.

Lendo esse trecho do clássico da nossa língua, não podemos deixar de refletir, senão para corrigi-lo, pelo menos para deduzirmos a favor do nome atual de nossa Pátria, razões que o ligam intimamente ao mistério da Cruz.

Entendemos que, se o Salvador do mundo permitiu se divulgasse e se consagrasse o nome de Brasil, foi porque pretendeu dar cunho de maior veemência ao sentido da própria Cruz. Queria, por certo, que este povo tomasse como simbolo de sua fé o próprio sangue derramado no Calvário; e assim como o pau-brasil tinge de vermelho os panos, serve ele de expressivo significado a mostrar-nos que a Cruz não teria nenhuma valia se dela não houvesse jorrado o sangue do Redentor. O vermelho dessa madeira era tão intenso que foi comparado à brasa; e isto nos sugere que a nossa vida cristã deve ir ao rubro do fogo, em nosso amor a Cristo, em nossas batalhas a defender os princípios do Evangelho em que fomos nascidos e criados. Da Terra de Santa Cruz jorrou o sangue da madeira simbólica, tão vivo e ardente que se fez brasa e, mais do que brasa, brasil, ou muitas brasas, donde o nome predestinado que se conferiu à nossa Pátria. E se é o próprio Cristo quem afirma, segundo os Evangelhos, ter vindo para por fogo no mundo, que melhor nome senão este de Brasil, para completar a Cruz, incendiando o povo destas partes do globo terrestre na luta pela sustentação dos princípios do Cristianismo?

Amemos, pois, este nome de Brasil, que nos liga tão fortemente ao nome que se deu primeiro à terra descoberta, ou seja de Santa Cruz.

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SALGADO, Plínio. Grandes datas nacionais. In: COMPÊNDIO de instrução moral e cívica. 4. ed. São Paulo: Editora FTD, 1968. cap. XXIII, p. 123 – 126.

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