O Homem-Capitalista e o Homem Integral

Para compreender qual a profundidade filosófica de um sistema político, basta perguntar-se qual a concepção que tal sistema tem do homem. A consciência das realidades humanas para a interpretação de todos os fatores sociais é importantíssima. A sociedade implica sobre os indivíduos que a compõem características gerais, que são familiares a todos, ou à sua maioria, ou a um número de fato expressivo, que fazem parte dela. Quer saber como vai uma sociedade? Basta atentar-se para o tipo de homem que ela produz.

Eis um dos primeiros erros do liberalismo: a ideia de que existem indivíduos que estão alheios aos fatores coletivos. Ora, é evidente que [quase] tudo que um indivíduo fizer vai influenciar, em grande ou menor escala, aqueles que estão ao seu redor. Há na dinamicidade das relações humanas, uma constante ação e reação de indivíduo e sociedade geral. De tal forma é isso, que o indivíduo não pode estar bem estabelecido e representado, se não for o seu grupo natural livre e sadio. Por isso que defendemos tanto a Democracia Orgânica. Bem, isto é um assunto para outro texto e, de todo forma, deixo aqui a indicação para que leiam um artigo que aqui postei chamado: Democracia Liberal: A Desilusão Saudável.

Os que viram o título deste texto poderiam interrogar-me: mas o que é o “homem-capitalista”?

Antes de tudo, preciso especificar a que me refiro quando uso o termo “capitalismo”. Não me refiro ao mercado, nem critico a ideia de se haver iniciativas privadas, nem muito menos me refiro ao empreendedorismo. Minha crítica é a uma concepção materialista do universo que concebe o homem como se este fosse não muito diferente de um bicho, como se fosse um ser que tem toda a sua vida devotada unicamente às satisfações materiais, e que nada existe nele, ou ao seu redor, de transcendente, ou de belo, e que tudo deva ser estritamente útil e desligado de qualquer ordem metafísica. Alguns podem me dizer: “mas há capitalistas liberais católicos, ou ao menos religiosos”. Bem, ao menos, católicos não existem, pois a condenação da Igreja contra o liberalismo é explícita e incisiva. E mesmo aqueles que se digam religiosos e defendam o liberalismo, é evidente que estão numa vida de íntima contradição, em que quanto mais se aproximam de um, mais se distanciam de outro. Pois espiritualidade e liberalismo são coisas absolutamente opostas.

Entendendo isso, passemos adiante. Ora, vivemos numa sociedade liberal. Isso é fato. As pautas progressistas que dominam toda a mídia e toda disseminação, são pautas indiscutivelmente liberais. Todas partem do pressuposto de liberdade acima de tudo. Todas partem do pressuposto de que qualquer freio moral é absolutamente descartável. É dessa concepção materialista e liberal que surgiu o capitalismo e o comunismo. O segundo, hoje, está praticamente nulo. Nosso inimigo é o liberalismo; é o capitalismo.

Onde estão os centros das diversas ideologias progressistas, senão nos Estados Unidos, nos países liberais da Europa, e em Israel? O socialismo/comunismo, de fato, é um inimigo que deva ser combatido, mas não é, hoje, o grande inimigo. São os liberais que financiam a indústria abortista, a indústria pornográfica, os movimentos feministas, os movimentos chamados de LGBTs, os movimentos que buscam a legalidade da pedofilia, os movimentos raciais de teor indiscutivelmente racista, os movimentos ambientalistas, as diversas propagandas difamatórias contra a Santa Igreja, e tantos outros que formam um grande cancro que corrói nossa sociedade. O comunismo já virou piada. Já virou meme de que passa fome. Já está ultrapassado. O capitalismo liberal, no entanto, está aí – incólume e destrutivo como nunca antes visto. Isso é absolutamente óbvio. Veja tudo que está no mainstream e diga-me se não é que todas as opiniões, as interpretações da realidade, não partem de uma perspectiva liberal! É isso que o jovem de hoje consome. É isso o que infesta as mentalidades novas, criando um senso comum assassino.

Qual seria o fruto dessa sociedade liberal? Qual homem poderia surgir como produto de tantas degenerações? Hoje, o homem não pode ser viril, nem masculino; e a mulher não pode ser sensível, nem feminina; ambos têm de ser bichos amorfos, andróginos, incontroláveis, entregues aos seus impulsos, pois qualquer coisa além disso pode ser considerado ofensivo. Justamente por isso que financiam tudo aquilo que citei no parágrafo acima.

Os jovens de hoje já não são educados por seus pais, na tradição da pátria e da família; são educados pela cultura amplamente disseminada na grande mídia. Hoje, o jovem é feminista, viciado em pornografia, em masturbação, ou ao menos leva uma vida sexual libertina; é agnóstico, ou ateu, ou, se tem uma religião, não a pratica, nem a toma como régua de todas as suas ações; é covarde, vive acuado, como se fosse um bicho indefeso que fugisse da caça; é aquele do qual você não pode confiar, nem esperar nada, pois ele não age e está fadado a falhar, por ser incapaz de ter pulso firme quando o dever lhe chamar. O homem é afeminado, emasculado, incontrolado e, intimamente, violento. A mulher é masculinizada, insensível e, igualmente ao homem, escrava do mercado de trabalho. As crianças não são educadas pelos pais; ou porque esses, por trabalharem muito, não têm tempo; ou porque simplesmente nem se esforçam e dão aos seus filhos um celular para que eles se entretenham e não os incomode.

Eis o homem capitalista: ele não tem moral; tem uma fome por satisfação insaciável, fome, esta, que o torna violento. É o homem entregue a todos os seus impulsos, sem autocontrole, incapaz de se afirmar. É o homem que as propagandas amam. Ele estará disposto a comprar qualquer produto que lhe atice os sentidos, que lhe sirva de gatilho para alguma insatisfação. É o homem que os grandes capitalistas fabricaram para poderem usar prazerosamente. O consumista. O viciado. As propagandas lhe dizem que ele está no centro; parece magia – tudo corresponde exatamente ao que ele quer, tudo está feito unicamente para que ele se satisfaça! Ele, idiota inconsciente que é, acredita. Crê verdadeiramente que os capitalistas disputam por ele, que tudo é feito para ele. Então o infeliz torna-se egoísta. Tredo engano, para o verme insaciável! O homem capitalista não passa de um produto. Não está no centro de nada. Ele é o produto. “Chamem os cientistas para examinar esse bicho excêntrico chamado homem!” “Investiguem esse ser irracional que obedece a todos os seus impulsos e que cuja vida está condicionada aos caprichos midiáticos.” E quanto mais esse homem pode se satisfazer, mas triste e depressiva torna-se sua vida. Pois esta perdeu o sentido, quando devotou-se a satisfazer o capitalismo.

O homem-capitalista é a antítese do homem integral. O primeiro é uma invenção da modernidade; é um instrumento de lucro. O segundo é simplesmente o homem. Não é uma idealização, ou uma meta para se criar uma super-humanidade. Todos são homens integrais. Reconhecer-se como homem integral é reconhecer todas as suas realidades: material, espiritual e intelectual. A partir do momento que se tem conhecimento disso e se propõe a desenvolver-se espiritualmente, o homem acha-se em sua vocação; que é contemplar a Deus.

Conscientize-se! Deixe de ser um homem-capitalista! Essa condição tira de você sua dignidade e lhe põe como se fosse você algo tão valoroso quanto uma ameba. Reconheça-se integral, e estará liberto de todas as ideologias, de todos os grilhões que lhe prendem ao descontrole e que são causa do despotismo da carne. Faça sua revolução interior e venha lutar conosco!

Jonas de Mesquita
Rio Grande do Norte

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Atualização maio de 2024: O texto originalmente publicado aqui foi revisado e ampliado pelo autor, que aprimorou sua escrita e amadureceu suas ideias. A versão revisada e ampliada deste texto está no livro "Para Entender o Integralismo", que logo estará à venda em nossa livraria. Talvez um dia este texto venha a público novamente aqui no portal, neste link, mas até lá, será exclusivo do livro. Quem quiser lê-lo, deverá adquirir o livro.
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