Éneas Ferreira Carneiro - Paula Giandália/Folhapress

“Em 1977, lançou o renomado livro “O Eletrocardiograma”, já na condição de Mestre em Cardiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. O best-seller foi apelidado pelos estudantes de medicina como “A Bíblia do Dr. Enéas”, com 622 páginas e diversas edições. Foi presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro, no biênio 1986/1988.”

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Em 6 de maio de 2007, Dr. Enéas nos deixou, na cidade do Rio de Janeiro, num domingo ensolarado com um jogo eletrizante do seu time o Flamengo – apesar de que não emitia nenhuma opinião a respeito de futebol – contra o meu glorioso Botafogo na final do Campeonato Carioca; um empate no tempo normal por 2 a 2, e nos pênaltis (4 a 2), no qual a equipe rubro-negra ganhou a taça do Estadual do Rio. Eu estava no Maracanã quando recebi a notícia do falecimento do Dr. Enéas.

Um homem ímpar e de cultura vasta. Um homem de ideias, que sucedeu o escritor católico Plínio Salgado no ideário nacionalista-conservador.

E deixou um legado por meio do PRONA – 56. Uma luta em prol do Brasil. Defendendo um Estado soberano e forte, num viés contra o liberalismo e o totalitarismo. Tendo como base o princípio da ordem, do respeito, da disciplina e da autoridade.

Dr. Enéas Ferreira Carneiro, nasceu na cidade de Rio Branco, no Acre (AC), em 5 de novembro de 1938, mas foi registrado em Belém do Pará. Sendo filho do barbeiro e funcionário da antiga Companhia de Navegação Costeira, Eustáquio José Carneiro e da dona de casa e artesã Mina Ferreira Carneiro. Ficou órfão aos nove anos de idade. A mãe morou depois com o filho no Rio e morreu logo após chegar na cidade.

Dr. Enéas media 1,60 m e pesava 56 kg; morou no bairro humilde do Alto da Sururina em Belém do Pará e trabalhou desde a tenra idade, morava num casebre de palha. Cursou o primário no Grupo Escolar 24 de Maio, em Rio Branco, e o curso ginasial e o científico no Colégio Estadual Paes de Carvalho, em Belém do Pará, sempre ficando em primeiro lugar com notas altíssimas.

Em 1958, pegou um Itá no Norte e ingressou na Escola de Saúde do Exército, no Rio de Janeiro. Formou-se terceiro-sargento auxiliar de anestesiologia, tendo sido novamente o melhor aluno. Homem de hábito simples usava creme dental Kolynos e xampu Neutrox para a barba.

Apreciava feijoada, camarão à baiana, vatapá e suco de maracujá. Fã de Machado de Assis e da cantora Elba Ramalho, dizia que seu melhor amigo eram os “livros”.

Formou-se em Medicina com brilhantismo, especializando-se em cardiologia.

No ano de 1968, graduou-se no curso de licenciatura, em Matemática e Física na Universidade do Estado da Guanabara (atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ).

Foi professor e diretor do curso pré-universitário Gradiente, lecionando Física, Matemática, Biologia, Química, Língua Portuguesa e praticava taquigrafia.

Em 1977, lançou o renomado livro “O Eletrocardiograma”, já na condição de Mestre em Cardiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. O best-seller foi apelidado pelos estudantes de medicina como “A Bíblia do Dr. Enéas”, com 622 páginas e diversas edições.

Foi presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro, no biênio 1986/1988.

Durante décadas, clinicou em seu consultório no Rio de Janeiro, e na condição de professor de Eletrocardiograma, ministrou aulas para mais de 30 mil médicos. Foi médico do INCA-Instituto Nacional do Câncer.

Destacava-se como um homem de profundo conhecimento e leitura em diversas áreas, tais como: Filosofia, Sociologia, Psicologia, Estruturalismo, Linguística, Paleoantropologia, Direito Constitucional, Teoria Geral do Estado, Macroeconomia, História, Geologia, Climatologia, Cibernética, Astrofísica, Psicolinguística e principalmente Medicina e Política.

Nas horas vagas, com sua luneta, estudava a respeito das constelações. Era um homem disciplinado, principalmente com horário. Nunca chegava atrasado a nenhum compromisso.

Carnívoro praticante, fazia restrições ao uso de adoçantes, margarina, chicletes e refrigerantes, além de antitabagista convicto.

Em 1989, diante da situação crítica do País, principalmente na área de saúde, Dr. Enéas Carneiro, com amigos médicos, fundou o Partido de Reedificação da Ordem Nacional (PRONA), travando uma batalha solitária contra o poderio econômico, em prol da soberania brasileira. Uma batalha contra o sistema vigente.

Com apenas 15 segundos no horário eleitoral no rádio e na televisão, disputou à Presidência da República em 1989. De maneira virulenta e não convencional, obteve mais de 360 mil votos, principalmente no eixo Rio e São Paulo.

Nas eleições presidenciais de 1994, Dr. Enéas Carneiro, com um 1 minuto e 17 segundos de propaganda eleitoral, conseguiu a notável votação de 4,6 milhões de votos, sendo o terceiro candidato mais votado à Presidência naquelas eleições, à frente de oponentes consagrados como Leonel Brizola e Espiridião Amim.

Candidato à Presidência em 1998, o Dr. Enéas Carneiro obteve 1,407 milhão de votos, propondo que o Brasil não assinasse o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. Foi injustamente atacado pela imprensa que não entendia o seu posicionamento nacionalista.

O ilustre companheiro Paulo Fernando com o saudoso Deputado Dr. Enéas Carneiro na Convenção do PRONA em SP.

Em 2000, foi candidato derrotado à Prefeitura de SP, travando um debate histórico com o ex-presidente Fernando Collor, e com a deputada petista Marta Suplicy.

Tendo em vista a aprovação no governo FHC da cláusula de desempenho, depois declarada inconstitucional pelo STF, resolveu ser candidato a Deputado Federal pelo Estado de SP. Obtendo 1 576 040 votos, a maior votação individual de um deputado federal, trouxe de carona mais 5 deputados federais eleitos pelo quociente eleitoral.

Na tribuna, denunciou a privatização como um crime de lesa-pátria, em especial a “doação” da Vale do Rio Doce, a influência de George Soros no país, bem como a cobrança dos juros exorbitantes da dívida externa. Fez críticas ao neoliberalismo. Defendeu, isoladamente, o Estado mínimo necessário, opondo-se também a legalização das drogas e do aborto, além da defesa intransigente da Amazônia, dos recursos minerais, em especial o nióbio. Denunciou o imperialismo contraceptivo, lutou por um País livre das garras do capitalismo financeiro internacional, das mazelas socialistas, e principalmente a luta para estabelecer a ordem e o respeito pelo nosso amado Brasil.

Apresentou proposição que proibia a produção e comercialização de alimentos em forma de cigarros e outro projeto que substituía os combustíveis derivados de petróleo por outros produzidos a partir da biomassa. Além da defesa de investimentos no programa nuclear brasileiro e nas forças armadas.

Com o slogan “Com barba ou sem barba meu nome é Enéas” foi reeleito Deputado Federal em 2006. Acometido de uma leucemia e desiludido com a traição dos deputados eleitos pelo PRONA/SP, envolvidos no escândalo do mensalão do PT, com exceção do ínclito médico dep. Elimar Máximo Damasceno, resolveu extinguir o partido dizendo “O PRONA nasceu comigo e morrerá comigo, se fizerem isso em vida o que não farão depois da minha morte”.

Faleceu em casa no bairro de Laranjeiras no Rio ao lado das suas três filhas, aos 68 anos de idade, já sem a sua famosa e marcante barba.

Acredito que falta um documentário ou uma biografia a respeito do Dr. Enéas para que aqueles que não tiveram o privilégio de conhecê-lo possam ter acesso a todo o legado que deixou ao Brasil.

Se estivesse vivo, estaria na linha de frente do cenário político nacional, afinal o Dr. Enéas Ferreira Carneiro permanece o melhor presidente que o Brasil não teve.

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Por Paulo Fernando do Jornal O Brasileiro. Advogado, professor de Direito Constitucional e Eleitoral para concursos públicos nos principais cursos preparatórios do DF e ministra aulas no curso de Pós-Graduação em Assessoria Parlamentar no Centro Universitário do Distrito Federal (UDF).

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