É indubitavelmente mais velho do que o nosso país o nome que lhe deram. Capistrano de Abreu admitia esse ponto. E sente-se que ele não nasceu da cor de brasa de tinturaria tão famosa. Southey parece adivinhar isso quando escreve: ‘’Entre vários povos vivia uma tradição relativa a uma ilha encantada chamada Brasil. Era, pois, natural que, apenas aparecesse um país a que se pudesse aplicar, nele se fixasse esse nome, que até ali andava vago e incerto. Daí provavelmente ter ele prevalecido sobre a denominação oficial e até santificada pela sanção religiosa. ’’

Essa lenda chegou ao ponto de persistir, diz o folclorista See, entre os marujos da Irlanda e da Escócia até o ultimo século, quando o Brasil já era nação independente. Hy-Brasil era uma das promised lands, das Tir Tairngiri dos celtas, a falada terra repromissionis (Ou repromissionis Santorum) de São Brandão

Houve verdadeira intercorrencia entre a lenda e a história. O Brasil do pau cor de brasa, ou melhor verzino, berzino e berzil, confundiu-se com o Brasil da ilha bem-aventurada, da terra Feliz, do O’-Brasil céltico. E pela força moral do ultimo motivo é que, na nossa opinião prevaleceu. Assim, a mania comum de ir buscar para o nome Brasil um berço na madeira de tinturaria se vê prejudicada pela existência da lenda vetusta, a que por fim aludem Alf Torp e Moltke Moe, derivando o nome Bresail de bress, boa sorte, felicidade, prosperidade, etimologia tão aceitável, de qualquer ponto de vista, si não mais do que a outra. Do ponto de vista poético, simbólico, mesmo histórico e, sobretudo tradicional, não há hesitação possível. Brasil pode vir tanto de brasa como de Bresail ou Bressail, terra Afortunada. E a simples semelhança do vocábulo irlandês dado á ilha lendária do oceano sob as várias formas que já vimos com o do pau-brasil, berzil ou verzino talvez tenha trazido a confusão de que resultou se pensar fosse do nome da madeira que nasceu o do país. Tanto que á ilha de onde primeiro o levaram para a Europa, deste lado do mundo, não se deu o nome de Brasil, mas o de Madeira, que ainda lhe resta.

Gustavo Barroso in Aquem de Atlântida

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