Filósofo Ugo Spirito

O texto a seguir é a transcrição de uma intervenção do consagrado filósofo fascista Ugo Spirito em um debate realizado na sede do Instituto de Estudos Corporativos em 20 de Dezembro de 1972.

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Esse diálogo tem, para mim, um significado profundo, porque o problema do corporativismo está sendo tratado sem posições agressivas, sem posições partidárias e, portanto, sem posições que turvassem o caráter científico da discussão.

Concordo particularmente com Rasi, porque para mim o que ele disse é substancialmente consensual. Todavia, gostaria de dar a esse consenso um significado preciso.

Em 1972, o corporativismo retomou, sobretudo com este Instituto, uma vida profunda e a retomou com um espírito reformista, que não é mais aquele do corporativismo fascista que se realizou há quarenta anos atrás. É um outro corporativismo e Rasi o colocou bem em evidência.

Nesse outro corporativismo, elimina-se – ou busca se eliminar – o dualismo classista das classes de empregadores e trabalhadores. São divisões cristalizadas que devem ser retiradas do meio para poder se realizar o verdadeiro corporativismo. Bem, você tem de reconhecer que essa maneira de ver de Rasi se contrapõe ao próprio corporativismo oficial do regime[1], contra o qual se há quarenta anos atrás se polemizava e se tentava eliminar o dualismo das classes dos empregadores e dos trabalhadores.

Ver hoje retomado o caminho do corporativismo, nesse sentido, não apenas me emociona, mas me faz compreender que os tempos amadureceram e a revolução – a verdadeira revolução – está aí.

Certamente, hoje somos mais classistas do que até então e, infelizmente, o sindicato tem exclusivamente o direito de formular contratos de trabalho, mas também é verdade que, independente dos caminhos político e científico, estabelece-se um Instituto de estudos corporativismo afinado e ciente com esses princípios de caráter revolucionário.

É evidentemente um progresso, um indício, extremamente lisonjeiro para o futuro, e isso me leva a colaborar com profunda fé, concordando com os homens que dirigem o Instituto.

No entanto, quero expressar também uma reserva diante de Rasi, porque ele, na minha opinião, revelou um limite que não suspeitava mais e que, todavia, reapareceu esta noite para minha grande surpresa. É o limite estabelecido pelo fato de que, quando Rasi explicou a relação entre os extremos da escala corporativa, do indivíduo ao Estado, passou a colocar, entre as notas da escala, a família, depois as categorias, as empresas e, finalmente, os partidos políticos. Porém, com a inclusão dos partidos políticos, acredito que se elimine grande parte do significado do novo corporativismo.

O novo corporativismo deve se opor radicalmente aos partidos, porque os partidos são, como tem dito Rasi, aquelas aglomerações, aquelas associações espontâneas, para os quais todos pensam como eles. São grupos autônomos, reciprocamente contrastando com todos os outros estágios da escala entre indivíduo e Estado, que são, juntos, colaborativos e produtivos, através de uma unidade de intenções e meios a se adotar. Não vejo como, no meio desses institutos, possa aparecer o partido, que representa não mais um fenômeno produtivo, mas apenas um instituto ideológico e – convenhamos – uma concepção filosófica da vida.

Os partidos são uma sobrevivência de uma concepção do indivíduo soberano, que hoje não tem mais sentido. A incompetência deve ser descartada e falar partido, regime parlamentar, regime eleitoral, regime majoritária significa falar da mesma coisa, isto é, aquele mundo que deve ser abolido e não pode sobreviver em tempos de ciência e tecnologia.

O mundo dos partidos políticos devem ser eliminado da concepção do corporativismo: eliminado radicalmente, sobretudo tendo em vista que dizer partido e dizer incompetência é a mesma coisa. No plano da incompetência, não se pode construir nada e, se isso é verdade, deve-se acrescentar que, para levar em frente a construção do novo corporativismo, é necessário distinguir, clara e categoricamente, a economia corporativa ou programática da economia parlamentar, democrática e majoritária que continua a dominar o mundo atual.

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NOTAS:

[1] O “Regime” a que se refere Spirito é o regime fascista italiano que vigorou de 1922 a 1943.

tradução de Breno Costa

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