Solenidade integralista realizada na capital da Bahia para comemorar o Dia da Pátria.

No dia 23 de abril de 1933, na capital de São Paulo, um grupo de pouco mais de 40 jovens brasileiros, constituídos de estudantes da Faculdade de Direito, operários da Mooca, do Rio Claro e de Bauru, apareceu em marcha na direção da Rua do Carmo, onde iam realizar uma sessão cívica. Vinham da Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, e passaram pelo largo de São Francisco, Rua Benjamim Constant e Praça da Sé, em hora de intenso movimento, conquanto a tarde estivesse garoenta. Despertaram viva atenção, pois envergavam camisas-verdes.

Na “Noite Ilustrada”, do Rio, estampou alguns aspectos dessa estranha passeata. E logo, pelo Brasil Inteiro, correu a notícia, que informava tratar-se do Integralismo, movimento cujos objetivos doutrinários já haviam sido expostos no Manifesto de outubro de 1932. Como conseqüência fundou-se os primeiros núcleos de adeptos, em São Roque, Rio Claro e Bauru (São Paulo); em Erechim (Rio Grande do Sul), Canoinhas (Santa Catariana), Fortaleza (Ceará), Teófilo Otoni (Minas) e Capital da República. Vieram, depois, os de Niterói, Vitória, Santa Teresa, Natal, Recife, Salvador, Aracajú, Maceió. E, no curso de mais quatro anos, elevavam-se a cerca de 3.000 esses centros de cultura e educação moral e cívica, lutando contra as idéias comunistas, separatistas, nazistas, fascistas e liberais.

O movimento afirmava-se espiritualista em contraposição ao materialismo burguês; nacionalista em contraposição ao cosmopolitismo e aos excessos regionalistas; brasileiro, em contraposição ao racismo nazista; democrático, em contraposição às ditaduras do tipo fascista; conservador, em contraposição a quantos se esqueciam da tradição nacional; aristocrático, em contraposição à demagogia e à inversão dos valores, à demissão vergonha das elites, à indisciplina geral dos espíritos; revolucionário, em contraposição à rotina e à timidez de reformistas superficiais.

OS INIMIGOS DO INTEGRALISMO

Como era natural, enquanto centenas, depois milhares e centenas de milhares de brasileiros acorriam a cerrar fileiras naquela vibrante falange de brasilidade e cristandade, também poderosas correntes se levantaram contra o Integralismo. Essas correntes eram constituídas, em primeiro lugar pelos comunistas; em seguida, pelos nazistas e fascistas, que desejavam formar no Brasil perigosas minorias raciais, mantendo mesmo, sob os olhos complacentes do Governo, milícias uniformizadas a sustentar bandeiras alienígenas; logo depois vinham também lutar contra o Integralismo as situações políticas dominantes nos Estados; e declaravam ainda guerra ao novo movimento, os separatistas, na ânsia de colocar as suas regiões acima da Pátria Brasileira. Os numerosos grupos e indivíduos entregues à demagogia e tendentes á desordem e, finalmente, aqueles que pretendiam arrebatar as idéias do Integralismo para consolidar posições sob a forma de ditaduras oligárquicas, todos se aliavam na batalha contra a bandeira do Sigma.

Com tantos inimigos, era natural que um dia, quando as circunstâncias o facilitassem, o Integralismo fosse apresentado, através dos jornais do país e do estrangeiro, no rádio, do livro, e até de compêndios escolares ou didáticos, exatamente pelo contrário do que representava esse movimento da mais pura brasilidade do mais profundo espírito da verdadeira democracia cristã.

A MAIOR OBRA CÍVICA DO BRASIL

Em quatro anos de ação, o Integralismo soprou a brasa do patriotismo aparentemente adormecido do povo brasileiro, acendendo um clarão como de outro não há notícia na nossa Pátria.

Ensinou o povo a cantar o hino Nacional (que raríssimas pessoas sabiam); levou multidões a aplaudir freneticamente os desfiles do Exército e da Marinha (que então, como hoje, passavam nas ocasiões das paradas, em meio ao silêncio de reduzidos espectadores frios e apenas curiosos); promoveram o culto das datas históricas e dos heróis do nosso Passado Nacional, realizando comemorações imponentes, como as de Caxias, de Carlos Gomes, de Tamandaré, de Couto de Magalhães, de Pedro II, que ficaram memoráveis; abriu cerca de 3.000 escolas de alfabetização para adultos e cerca de mil lactários para a infância; organizou bibliotecas e fez dar cursos de história do Brasil, geografia, Instrução Moral e Cívica, Economia Política, elementos de Direito Público e de Filosofia; fundou milhares de ambulatórios médicos e cooperou na obra de recuperação física da nossa gente; realizou exposição e concertos e cursos de Cultura Artística, um dos quais foi notabilíssimo, no salão da Escola Nacional de Belas Artes; e – o que mais importava! – arregimentou a infância e a adolescência, incutindo-lhes entusiasmo pelas nobres idéias, formando-lhes os corações segundo a doutrina do Evangelho, incendiando-as num surto de patriotismo como nem antes nem depois se viu algo de semelhante.

O Integralismo fez escola de austeridade e de firmeza de princípios, de altruísmo e abnegação, de idealismo construtor, de amor ardente pela Pátria, de sacrifícios por ela. Uma escola de disciplina e de ordem, de simplicidade e de modéstia, de preocupação pela coisa publica, de apostolado pela regeneração dos costumes. Uma escola que tinha por base a revolução interior, a transformação do próprio Homem pelo domínio de si mesmo, na luta contra os baixos instintos que perseguem o ser humano como conseqüência da culpa original. Uma escola de vigilância constante na defesa das bases fundamentais da vida brasileira: a Religião, a Pátria e a Família.

TESTEMUNHO DE MOSCOU

O que representou esse movimento como sustentáculo da Defesa Nacional, pela atmosfera civil de respeito às Forças Armadas e cooperação com elas, diz a voz mais insuspeita que imaginar se possa: o Comintern.

Esse atestado do que valeu o Integralismo contra os desejos da Rússia em dominar, subjugar e escravizar o Brasil, vem de Moscou em documentos autênticos, um dos quais publicado pelo jornal “A Batalha”, em 18 de janeiro de 1936 e reproduzido pelo “Correio do Ceará” de 20 do mesmo mês e ano. É uma circular secreta de Luís Carlos Prestes, que diz o que expôs numa reunião secreta do Comintern em que tomou parte. São estas as suas palavras:

Eu pensava agir de outro modo bem diferente” (refere-se à revolução comunista de 1935) “como já tinha tido oportunidade de me manifestar aos camaradas mais chegados PRINCIPALMENTE DEPOIS DO FENOMENO INTEGRALISTA, que escapou por completo às minhas cogitações. Afirmei EM SESSÃO SECRETA DO COMINTERN que, antes de tentar qualquer golpe no Brasil, era necessário:

“1º) – Criar a consciência revolucionária nos intelectuais do momento e futuros. Forjar a camada da elite que tudo faz no Brasil.

“2º) – Alargar meu prestígio no Exército, pois o trabalho nesse sentido estava mal dirigido. Tenho de conquistar a classe dos oficiais, ou nada poderei fazer…

3º) – EXTINGUIR OU PELO MENOS ENFRAQUECER O INTEGRALISMO.”

As ponderações de Luís Carlos Prestes ao Comintern foram atendidas. Pois nesse mesmo ano de 1936, Dimitroff expediu a seguinte ordem aos comunistas brasileiros:

“Concentrat Le feu contre lês chefs intégralistes, soulignant que ces chefs sont dês groupes lês plus réactionnaires de L’imperialisme, Il faut partout luter pour Le front démocratique national-liberateur, surtout à La base y compris celle de La Action Integraliste.”

Ou seja, em português, esta ordem de Dimitroff:

“Concentrando o fogo contra os chefes integralistas, acentuando que esses chefes são agentes de grupos os mais reacionários do imperialismo, é preciso lutar pela frente democrática nacional-libertadora, sobretudo na base e incluída a luta contra a Ação Integralista”

Esse documento foi publicado e lido pelo rádio em agosto de 1937.

Sua diretiva foi cumprida fielmente no Brasil. O Integralismo foi acusado de nazi-fascista (quando foi ele o primeiro que ergueu a voz em nossa Pátria, contra a doutrina hitlerista); foi acusado de totalitário (quando não aceitou o Estado Novo que era totalitário, pelo menos no que se referia às liberdades políticas e de manifestação de opinião); foi acusado de traidor e inimigo da Pátria (quando foi ele o mais belo, o mais vigoroso movimento em prol das tradições brasileiras e do civismo até ao sacrifício; foi acusado de adotar uma doutrina estrangeira, (quando foi ele o movimento que buscou em Alberto Torres, Farias Brito, Oliveira Viana, Euclides da Cunha, Olavo Bilac, nos pensadores do Império e da tradicionalidade lusíada, os fundamentos de sua nova ordem genuinamente brasileira); foi acusado de inimigo da democracia (quando foi ele que deu o brado de alerta contra os inimigos das nossas instituições e inscreveu no seu programa as eleições livres e a rotatividade no exercício do Poder).

Implantada a Ditadura do Estado Novo em 1937, sendo fechados todos os partidos políticos, os parlamentos federal e estaduais, estabelecida a censura de imprensa e proibidos os comícios políticos, também o movimento integralista foi incluído entre as organizações que deveriam cessar as suas atividades. E durante oito anos, sem direito nem faculdade de defesa, os adeptos da doutrina de Plínio Salgado assistiram às atividades dos comunistas infiltrados na imprensa e nas casas editoras, as quais apresentavam o Integralismo exatamente ao reverso do que ele era, culminando essa campanha sistemática e orientada diretamente por Moscou, pelo lançamento espetacular das mais tremendas calúnias, entre as quais a de que os integralistas davam sinais aos submarinos alemães para que fossem afundados navios brasileiros, quando na verdade aqueles navios eram tripulados por integralistas, que morreram defendendo a Pátria, conforme provou, mais tarde, o major Jaime Ferreira com abundante documentação, em discurso pronunciado na Câmara Municipal do Distrito Federal.

RESSURGE A DOUTRINA

Restauradas as liberdades democráticas no país, o Integralismo não se reorganizou como movimento, mas começou a exercer enorme influência como doutrina. Como fundador do movimento, afirmei em manifesto de julho de 1945: “A Ação Integralista Brasileira”, era um partido e foi fechado; mas o Integralismo é uma doutrina e ninguém pode fechar.”

Quando, há alguns anos, foi pedido, pelo senador Vilas Boas, o cancelamento do registro do P.R.P., alegando que este adotava a doutrina integralista, o Superior Tribunal Eleitoral estudou a fundo a essência doutrinária dos documentos básicos do Integralismo e concluiu negando aquele cancelamento e declarando que o próprio Integralismo é doutrina perfeitamente democrática.

E nem podia deixar de ser, não só em face dos postulados do Integralismo, mas ainda levando-se em consideração os pareceres, julgamentos e opiniões de dezenas de prelados católicos, de numerosos juristas e homens públicos que, entre 1932 e 1937, se manifestaram favoráveis à doutrina dos camisas-verdes.

CRITICAS QUE SE PODEM FAZER

Registrando esse fato histórico (o vigésimo quinto aniversário da primeira marcha integralista) o qual pertence à História do Brasil, fazemo-lo com absoluta isenção e rigoroso método expositivo. Nem deixaremos de apontar, já que estamos narrando fatos históricos, os defeitos e pontos fracos do movimento integralista. Diremos, por exemplo, que o excesso de exterioridades deu ao movimento, algo do tom demagógico e demasiadamente popular, que deve ter, de certa forma, prejudicado o sentido profundo da revolução cultural e moral que o movimento se propunha. Em conseqüência disso, houve excesso de adesões, existindo mais camisas-verdes do que propriamente integralistas. Além dessa massa de simples impressionáveis, de homens, mulheres e jovens propensos a exibições externas, sem estudo sério da doutrina, houve também uma onda de ambiciosos políticos, que viram no crescimento rápido da agremiação as possibilidades de satisfazer seus interesses pessoais. Ainda em conseqüência das exterioridades, que davam ao movimento, visceralmente antinazista e antifascista, o aspecto de certa semelhança com movimentos congêneres em outros países, correram a alistar-se no Integralismo muitos intelectuais preconizadores das doutrinas totalitárias. Por outro lado, sendo um movimento de regeneração nacional, foi confundido, pelos espíritos apressados, como pertencente ao tipo das revoluções de 1922, 1924, 1926, 1930, 1932, que visavam a derrubada das situações então dominantes, sem trazer uma sólida base doutrinaria de reconstrução.

Todos esses elementos concorreram para que os adversários da doutrina Integralista desenvolvessem sua argumentação a maior parte das vezes, os seus sofismas para apresentar o movimento do Sigma inteiramente deformado aos olhos da opinião publica.

SALDO POSITIVO DO GRANDE MOVIMENTO

É certo que as críticas que aqui expendemos, para sermos imparciais, não diminuem o valor moral e histórico do Integralismo. Por felicidade, os revezes, os maus dias que o Integralismo viveu durante os anos das perseguições e das calúnias, expungiram do seio do movimento todos os que não o haviam compreendido na sua essencialidade. Acresce que o longo recolhimento do fundador da Ação Integralista no exílio e essa espécie de retiro espiritual dos seus companheiros mais sinceros, em igual período de meditação, concorreram para clarificar o pensamento integralista, que hoje atingiu a sua forma de expressão mais perfeita.

Postas de lado as exterioridades as circunstancialidades, ficou a interioridade a substancialidade, como doutrina não apenas de salvação social e política brasileira, mas também de salvação humana nos domínios dos assuntos temporais que interessam ao Bem-comum. Assim o entendem grupos de intelectuais de várias nações sul-americanas. E quanto aos princípios e conclusões integralistas, vemo-los consagrados por pensadores do tipo de um Thibon em França, de um Fulton Sheen nos Estados Unidos e até mesmo pela palavra de homens de Estado os mais eminentes de vários países.

O IMPERATIVO DE SALVAÇÃO NACIONAL

A juventude brasileira, estudiosa e consciente, não podia deixar de considerar, registrar e comentar a data histórica do aparecimento do Integralismo no cenário nacional ocorrido há 25 anos.

A comemoração dessa data coincide com um momento crítico da vida econômica, social e sobretudo moral do Brasil. As angustias são gerais. A desordem impera. Brasileiros traidores viajam para Moscou, ostensivamente e com o consentimento de um regime suicida, onde vão buscar as diretrizes com que pretendem destruir a soberania da nossa Pátria, transformando-a em província, em colônia da Rússia. No mundo político impera a confusão. Nas esferas administrativas as negociadas, o suborno, o relaxamento e a gorjeta. Na alta classe burguesa, a ostentação, o luxo, a sensualidade. Na classe média, o desalento e a revolta. Na classe dos trabalhadores, o desespero, a aflição, habilmente explorados pelos que se dizem seus amigos e só pretendem levá-los à escravidão mais negra. No ensino, vemos a queda vertiginosa dos níveis mentais de uma geração. E essa geração, essa mocidade, na sua grande maioria, cada vez mais cretinizada pelos prazeres, pelas histórias de quadrinhos, pelas “corriolas”, pelo mau teatro e mau cinema e pelas orgias do carnaval. O quadro é dos mais desoladores e a sua moldura a mais tétrica: uma agricultura abandonada, populações deslocadas, flagelados clamando, o custo de vida cada vez mais caro, o custo da produção cada vez mais onerosos ao ponto de não podermos mais exportar. E tudo isso, na atmosfera de confusionismos políticos, de perfídias e deslealdades, de interesses rasteiros, de irresponsabilidade universal.

Com todos os defeitos ou deficiências que se possam apontar no Integralismo, é hoje ele aceito como doutrina e relembrado comovidamente no seu caráter de momento. Muitos que ontem o rejeitaram, ou não o quiseram compreender, hoje com lágrimas nos olhos invocam a poderosa força nacional que esse mesmo Integralismo representou. E os que temem as desgraças totais da Pátria de que é portador o comunismo ateu a serviço do imperialismo russo, apelam para essa doutrina e essa mística, que a maioria dos brasileiros deseja ver ressurgir, ainda que sob outras formas, como imperativo de salvação nacional.

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SALGADO, Plínio. Obras completas: O Integralismo na vida brasileira (política). Rio de Janeiro: Livraria clássica brasileira.

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