No mês de fevereiro de 2022, quando São Paulo e o Brasil celebram o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 e o Modernismo, de que foi ela o grande marco, muito poucos têm evocado o nome de um dos participantes da aludida Semana, que foi e é também o maior romancista e o maior poeta em prosa de todo o Modernismo Brasileiro. Falamos, é claro, de Plínio Salgado, escritor e poeta tão notável quanto injusta e criminosamente olvidado, quando não duramente atacado por aqueles que não se dão sequer ao trabalho de ler sua obra, que conhecem apenas por aquilo que seus inimigos sobre ela têm falado, acusando-o de sustentar ideias nefastas que sempre combateu veementemente. Entre os deste último grupo está o jornalista e escritor Ruy Castro, que, na entrevista dado ao programa Roda Viva, da TV Cultura, de São Paulo, no último dia 7 de fevereiro, afirmou que Plínio Salgado é o “fascista brasileiro por excelência”, quando, em verdade, Plínio Salgado sempre condenou o Estado totalitário de inspiração hegeliana, ponto central da doutrina de Mussolini e de Giovanni Gentile, assim como sempre sustentou que “o Integralismo é completamente diferente do Fascismo e do Hitlerismo”, escrevendo em 1935, no auge do prestígio do fascismo, que “os ignorantes, que nunca leram as obras integralistas, quando falam em público sobre essa doutrina, não reparam que estão se expondo a um ridículo tremendo, ao afirmar que o Integralismo é uma cópia do Fascismo”.

Neste breve ensaio, não nos propusemos a tratar da Semana de Arte Moderna de 1922 e o Modernismo em si, mas tão somente sobre a participação de Plínio Salgado no referido evento e no mencionado movimento, de que foi, aliás, um dos corifeus, como líder do Movimento Verde-Amarelo ou Verde-Amarelismo e do Movimento da Anta, também conhecido como Escola da Anta e Revolução da Anta, que recebeu tal nome por ser a anta ou o tapir um animal totêmico da estirpe tupi e uma abridora por excelência de caminhos.

No futuro, porém, pretendemos escrever ao menos algumas linhas a respeito da Semana de 1922 e do Modernismo como um todo, o que julgamos ser necessário em razão de poucos serem os que conhecem a sua verdadeira história, pois a esmagadora maioria das pessoas só tem sido apresentada a visão dessa história narrada por aqueles a quem o historiador João Fernando de Almeida Prado, mais conhecido como Yan de Almeida Prado, chamou de as “viúvas” de Mário e Oswald de Andrade em sua polêmica obra A grande semana de Arte Moderna. Tais “viúvas”, com efeito, reescreveram, a partir da década de 1940, toda a história da Semana de 1922 e do Movimento Modernista Brasileiro, sobredimensionando a importância de Mário e Oswald de Andrade no evento em questão e no Modernismo em geral e desdenhando de outros modernistas, quando não omitindo por completo os seus nomes, cometendo, assim, um verdadeiro crime, de que têm sido vítimas, além de Plínio Salgado, autores como Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Ribeiro Couto, Ronald de Carvalho, Luís Aranha, Cassiano Ricardo, Rodrigues de Abreu, Tasso da Silveira, Augusto Frederico Schmidt, Murilo Araújo, Andrade Muricy, Francisco Karam, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Dante Milano, Othon Gama D’Eça, Felippe D’Oliveira e Mansueto Bernardi.

Nascido a 22 de janeiro de 1895 em São Bento do Sapucaí, bucólica e tradicional cidadezinha paulista e brasileira adormecida entre lavouras e pinheirais, num alto píncaro da Serra da Mantiqueira, Plínio Salgado ali teve bem cedo contato seus primeiros contatos com a poesia, tanto a dos grandes vultos da Literatura Pátria quanto aquela dos humildes cantadores e violeiros caboclos de seu pequenino burgo natal. Foi em São Bento que, ainda bem pequeno, um poema de verdade pela primeira vez. Era o Canto do Piaga, de Gonçalves Dias, declamado por seu primo Joaquim Rennó, mais conhecido como Quinzinho. Até o final de sua existência terrena, Plínio consideraria Gonçalves Dias a “máxima figura da poesia brasileira” e a esse altíssimo vate maranhense dedicaria, no ano de 1943, em Portugal, o seu magnífico e ainda inédito Poema do Exílio, celebrando o centenário da Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, composta em Coimbra em 1843.

Quando tinha cerca de dez anos de idade, Plínio escreveu, ainda em sua serrana cidadezinha natal, uma bela poesia intitulada O amanhecer. Havendo lido o poema do filho, sua mãe, D. Ana Francisca Rennó Cortez, professora normalista formada em São Paulo no último ano do Império, entusiasmou-se bastante e começou a falar com ele a respeito dos grandes poetas brasileiros, em particular Castro Alves, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Gonçalves Dias, fazendo-o se interessar pela luminosa vida desses imortais bardos da nossa Terra. O pai, o Coronel Francisco das Chagas Esteves Salgado, farmacêutico e chefe político da região, contudo, em vez de se entusiasmar com o poema do filho, sentiu-se comovido e apreensivo. O pequeno poeta perguntou então à genitora o motivo da tristeza paterna e ela lhe disse que ele temia pelo seu futuro, já que os poetas, em regra, são sempre sofredores. Diante disso, resolveu Plínio que seria romancista e logo principiou a escrever um romance ambientado às margens do Lago Onega, na frígida e longínqua Rússia dos czares. O romance, no entanto, foi logo abandonado, tendo Plínio prometido a si mesmo que um dia escreveria um outro romance. Dois decênios mais tarde, escreveria ele o romance O estrangeiro (1926), primeiro grande romance modernista e também o maior e mais bem sucedido romance brasileiro da década de 1920, cujo protagonista, Ivan, é, aliás, natural da mesma pátria em que se ambientava o romance que começara a redigir na infância mas nunca terminara.

Pouco mais tarde, aos doze anos de idade, Plínio seguiu para a cidade mineira de Pouso Alegre, a fim de estudar no tradicional Ginásio Diocesano São José, onde foi contemporâneo de outros dois próceres do Modernismo, a saber, Menotti Del Picchia e Guilherme de Almeida. Posteriormente firmaria com ambos uma grande amizade, que se estenderia por toda a vida, e fundaria com o primeiro e Cassiano Ricardo, em 1926, o Movimento Verde-Amarelo, corrente sadiamente nacionalista do Modernismo. Diversamente do que supõem muitos, Menotti Del Picchia jamais pertenceu às fileiras da Ação Integralista Brasileira (AIB), embora tenha chegado a colaborar no jornal integralista A Offensiva, do Rio de Janeiro, antes de fundar, ao lado de Cassiano Ricardo, o seu próprio movimento cívico-político-cultural, intitulado A Bandeira. Guilherme de Almeida igualmente jamais se inscreveu na AIB, mas chegou a nutrir bastante admiração pelo Movimento do Sigma, tendo mesmo publicado, em 1933, no jornal O Imparcial, da Bahia, um artigo intitulado “Defesa do Integralismo”.

Com o falecimento do pai, no ano de 1911, Plínio teve que deixar o Colégio Diocesano São José e retornar a São Bento do Sapucaí a fim de cuidar da mãe viúva e dos irmãos mais novos. Foi na cidadezinha montanhesa natal, nos contrafortes da Mantiqueira, que pouco depois iniciou ele sua brilhante carreira jornalística, colaborando inicialmente no jornal A Cidade de São Bento, de que chegou a ser diretor, e também voltou a escrever poesias, algumas das quais, nos anos seguintes, foram publicadas em órgãos da imprensa local ou mesmo no grande jornal Correio Paulistano, de São Paulo, assim como no Almanach de São Bento, por ele organizado entre 1915 e 1916 e publicado neste último ano. Como era natural numa época em que o Parnasianismo ainda reinava soberano na poesia em nosso País, todos esses poemas, na maioria sonetos, eram parnasianos, seguindo todas as regras expostas por Olavo Bilac e Guimaraens Passos em seu célebre Tratado de versificação.

Ainda parnasiano na forma foi o primeiro livro de poesias de Plínio Salgado, Tabor, dado à estampa em 1919 e elogiado pela Revista do Brasil, então pertencente ao escritor Monteiro Lobato. Algum tempo depois da publicação da obra, Menotti Del Picchia, que já então aderira ao Modernismo (então chamado de “Futurismo”), leu o livro e julgou-o “bom, ótimo, sublime”, mas para os parnasianos, e péssimo para seu gosto, chamando-o, jocosamente, de Tambor. Iniciou-se então uma violenta polêmica entre os dois poetas, que pouco mais tarde se encontraram pessoalmente e ficaram amigos. E, um certo dia, em 1921, quando ambos eram redatores do Correio Paulistano, o até então parnasiano Plínio procurou o poeta de Juca mulato (Menotti Del Picchia) e disse-lhe que aderira à “escola nova”, entregando ao amigo aquele que é quase certamente o seu primeiro poema em versos brancos e livres, sob o título de Canto epitalâmico da morte. Tal canto foi divulgado por Menotti Del Picchia no jornal Correio Paulistano aos 3 de novembro de 1921, fechando um seu artigo sobre Plínio, intitulado “Mais um futurista!”.

Foi a convite de Menotti Del Picchia que Plínio Salgado participou, em fevereiro de 1922, da Semana de Arte Moderna, dos “sete dias que abalaram a literatura” e que na verdade foram três, e que, com seus desdobramentos, pode ser considerada, como escreveu Cassiano Ricardo, uma autêntica proclamação da “nossa independência de espírito e de sentimento”, pois, nos dizeres de Maria Amélia Salgado Loureiro, “nascia dali um sentido de brasilidade que, posteriormente, se tornou profundo e de consequências sociais e políticas da maior importância”.

Destarte, podemos afirmar que a Semana de Arte Moderna de 1922 foi inegavelmente um marco da Literatura e do Pensamento Brasileiro, mas foi sobretudo o ponto de partida para transformações ainda maiores, não apenas nesses campos, como também na vida social e política da Nação, dela sendo tributárias, em maior ou menor medida, todas as ideias autenticamente nacionalistas desenvolvidas nas décadas que se seguiram à sua realização.

No dia 6 de fevereiro de 1922, o jornal A Gazeta, de São Paulo, publicou o seguinte comunicado da comissão promotora da Semana de Arte Moderna que poucos dias depois seria realizada no Teatro Municipal de São Paulo:

A notícia de uma projetada Semana da Arte Moderna, em São Paulo, foi recebida com um frêmito de curiosidade, misto de entusiasmo, nas nossas rodas intelectuais e altamente mundanas. E era natural que assim acontecesse! É a primeira vez que se vai tentar no Brasil um certame dessa natureza. O Sr. presidente do Estado o Sr. prefeito municipal, compreendendo-lhe imediatamente o intento, em subido grau patriótico e educativo, e por conseguinte credor de apreço, não hesitaram em apoiar o comitê, prometendo-lhe a sua presença ao vernissage da exposição e aos três grandes festivais que se realizarão no Teatro Municipal.

Esses festivais foram assim denominados: o primeiro da “Pintura e Escultura”; o segundo da “Literatura e da Poesia”, e o terceiro o “Festival da Música”. Neles tomarão parte: na literatura, Graça Aranha, que fará uma conferência sobre “A Emoção Estética na Arte Moderna”, e os Srs. Ronald de Carvalho, Mário de Andrade, Álvaro Moreyra, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Renato Almeida, Luís Aranha, Ribeiro Couto, Deabreu, Agenor Barbosa, Rodrigues de Almeida, Afonso Schmidt, Sérgio Milliet, Guilherme de Almeida e Plínio Salgado; na música: Guiomar Novaes, Villa-Lobos, Otávio Pinto, Paulina d’Ambrosio, Ernani Braga, Alfredo Gomes, Frutuoso e Lucília Villa-Lobos; na escultura: Victor Brecheret, Hildegardo Leão Veloso e Haarberg; na pintura: Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Zina Aita, Martins Ribeiro, Oswaldo Goeldi, Regina Graz, John Graz e Castello.

Escusado será dizer que, desde já, grande é a procura de bilhetes.

O programa exato da Semana será publicado por estes dias.

Dentre os mencionados nesse comunicado, não participariam da Semana os artistas plásticos Castello e Regina Graz e tampouco o poeta e escritor Afonso Schmidt, assim como provavelmente os poetas Rodrigues de Almeida e Deabreu (Moarcir de Abreu), sobre os quais não mais se falou, e também Álvaro Moreyra. Por outro lado, além dos artistas mencionados nesse comunicado, participariam da Semana os artistas plásticos Yan de Almeida Prado (o então futuro historiador João Fernando de Almeida Prado, mais conhecido como J. F. de Almeida Prado), Paim Vieira e Vicente do Rego Monteiro, este último por intermédio de Ronald de Carvalho, que exibiu na exposição telas que lhe pertenciam do grande pintor pernambucano, que então se encontrava em Paris, cidade onde também estava na ocasião o escultor Victor Brecheret, que, portanto, também não participou presencialmente da Semana. Quanto a Goeldi, é provável que tenha de fato estado no Teatro Municipal durante a Semana, em que foram exibidos desenhos de sua autoria, conforme relataram diversos participantes daquele histórico evento. Participaram da Semana, ainda, o arquiteto polonês Georg Przyrembel, que apresentou belos projetos de edificações em estilo neocolonial, e o arquiteto espanhol Antonio García Moya, cujos projetos igualmente belos refletiam clara influência mourisca, lembrando diversas construções de sua Andaluzia natal. 

Segundo noticiou o jornal Correio Paulistano, poemas de Plínio Salgado foram lidos no palco do Teatro Municipal de São Paulo no festival do dia 15 de fevereiro daquele ano, depois da conferência de Menotti Del Picchia, intitulada A arte moderna:

Realizou-se ontem, no Teatro Municipal, o segundo festival da Semana de Arte Moderna, que atraiu uma numerosa e seleta assistência.

O nosso companheiro de trabalho Dr. Menotti Del Picchia abriu o espetáculo pronunciando um uma brilhante conferência que causou excelente impressão no auditório. O conferencista expôs clara e nitidamente as ideias das novas gerações paulistas, desfazendo dúvidas, traçando um programa de máxima liberdade dentro da originalidade, sem exageros e parte pris nem preconceitos escolares. A bela conferência do Sr. Menotti Del Picchia foi aplaudidíssima.

Terminada a interessante conferência, recitaram trechos de prosa e verso os Srs. Oswald de Andrade, Sérgio Milliet, Mário de Andrade, Agenor Barbosa, Armando Pamplona e Ronald de Carvalho, estes dizendo versos de Plínio Salgado, Ribeiro Couto e Manuel Bandeira. 

Ainda no ano de 1922, Plínio Salgado teve poemas publicados na revista Klaxon, primeiro periódico modernista do País, e publicou, na revista Illustração Brasileira, do Rio de Janeiro, órgão oficial da Comissão Executiva do Centenário da Independência, o ensaio “A poesia em São Paulo: Breves apontamentos sobre os vivos”, mais tarde transcrito, em versão revista e ampliada, em sua obra Críticas e prefácios, de 1956. Em tal ensaio, Plínio Salgado revelou e revela toda a honestidade intelectual que sempre o caracterizou (ao contrário da maioria dos seus adversários de ontem e de hoje), não se baseando em preconceitos de escola para louvar ou censurar os poetas de que tratou, buscando na poesia de cada um deles o ritmo, a emoção e a pureza do material vernáculo, afastando-se, assim, tanto “da intransigência parnasiana” quanto dos “preconceitos irritantes dos revolucionários unilaterais”, como havia destacado, em seu artigo “A crítica artística”, que sempre fizera ao apresentar poetas aos leitores do jornal A Gazeta, de que, aliás, fora redator.

Em “A crítica artística”, texto que, aliás, deveria ser lido e estudado por todos aqueles que se dedicam à crítica literária, artística e mesmo do pensamento, Plínio Salgado observou que “o essencial não são as teorias estéticas nem os programas dos partidos literários”, pois a personalidade está acima de tais coisas e é ela que se deve procurar em todas as manifestações artísticas. Segundo Plínio, “o crítico fechado dentro das quatro paredes de uma teoria é um ente desprezível escravizado por uma ideia autocrática e egoísta”, “a crítica não pode pertencer a confrarias” e era um erro dos modernistas mais exaltados a ideia de que para edificar uma nova arte era preciso romper com o passado e a tradição. Conforme fez ver o então futuro romancista de O estrangeiro, parte do movimento modernista assumira “a forma da negação de toda uma cultura de séculos”, não falando “em evoluir, em ambientar a arte no cenário moderno”, mas sim em “destruir o passado”. Em seu entender, para esses modernistas radicais, antes de abrir o Canal de Suez era preciso arrasar as pirâmides de Sesóstris e “a arte nova tinha de dançar sobre um cadáver”, o que era uma ideia absurda. 

Como salientou Plínio Salgado, no aludido artigo, preconceitos como os praticados por alguns modernistas eram justamente os males do academismo que combatiam e “todo ritmo novo é uma combinação de ritmos velhos” e a conferência de Menotti Del Picchia no segundo festival da Semana de Arte Moderna, “esclareceu esta questão literária e pôde ser considerada, com certas restrições, um traço luminoso entre o passado e o presente projetando-se no futuro”.

Assim, podemos ver que Plínio Salgado, diversamente de alguns outros modernistas da época, em particular Oswald de Andrade, longe de se opor à tradição, a defendia e jamais rompeu com ela, como, aliás, também não romperam com ela diversos outros poetas e escritores do chamado Modernismo, como Guilherme de Almeida, Menotti Del Picchia, Cassiano Ricardo, Ribeiro Couto, Manuel Bandeira, Tasso da Silveira, Augusto Frederico Schmidt, Rodrigues de Abreu, Cecília Meireles, Jorge de Lima, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, Ronald de Carvalho, Vinícius de Moraes, Murilo Araújo, Dantas Motta, Francisco Karam, Felippe D’Oliveira, Othon Gama D’Eça, Alphonsus de Guimaraens Filho, João Guimarães Rosa, José Américo de Almeida, José Lins do Rego, Octavio de Faria, Lúcio Cardoso, Luís da Câmara Cascudo, Adonias Filho, Cândido Motta Filho, Oliveira Vianna, Dinah Silveira de Queiroz, Rachel de Queiroz, Carolina Nabuco, Maria José Dupré, Gustavo Corção, Ariano Suassuna, Mário Faustino, Gerardo Mello Mourão e muitos mais. Igualmente não romperam com a tradição, aliás, todos os grandes autores de vanguarda de outros países, a exemplo de poetas como Fernando Pessoa, Rainer Maria Rilke, T.S. Eliot, Ezra Pound, William Butler Yeats, Rabindranath Tagore, Guillaume Apollinaire, Paul Claudel, Max Jacob, Blaise Cendrars, Giuseppe Ungaretti, Umberto Saba, Eugenio Montale e Federico García Lorca, assim como de prosadores a exemplo de Marcel Proust, Louis-Ferdinand Céline, Julien Green, Bernanos, Papini, Pirandello, James Joyce, Evelyn Waugh, Somerset Maugham, William Faulkner, John Dos Passos, Francis Scott Fitzgerald, Thomas Mann, Hermann Hesse, Ernst Jünger, Yukio Mishima, Kawabata e diversos outros.

Havendo afirmado que Plínio Salgado, longe de se opor à tradição, era um seu defensor, reputamos ser mister assinalar que, em toda a sua obra literária posterior ao já aqui citado livro de poemas Tabor, Plínio Salgado revelou-se sempre um modernista que jamais rompeu com a Tradição. A propósito, como enfatizou D. Arnoldo Nicolau de Flue Gut, tradicionalismo e modernismo “atuaram igual e poderosamente sobre Plínio Salgado”, tanto em seus escritos no campo da literatura pura quanto naqueles da literatura moral, sociológica e política.

Do mesmo modo, faz-se igualmente necessário sublinhar que, ao contrário de alguns modernistas mais radicais, Plínio Salgado jamais rompeu com o belo. A propósito, em discurso proferido na Câmara dos Deputados, em Brasília, no ano de 1972, quando se comemoravam os cinquenta anos da Semana de Arte Moderna, afirmou ele, com toda a razão, que “quando uma geração perde a noção da beleza, perde igualmente a noção do bem e perde também, em elucubrações, em inquietações constantes, o domínio da verdade”, e que “um povo que perde a noção do bem, da verdade e da beleza, é um povo que já não se defende, porque não tem nenhuma bandeira pela qual lutar”.

Em sua memorável conferência O Movimento Modernista, lida no Salão de Conferências da Biblioteca do Ministério das Relações Exteriores, no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro, no dia 30 de abril de 1942, Mário de Andrade afirmou que, embora tenha lançado “inúmeros processos e ideias novas, o modernismo foi essencialmente destruidor”, inclusive para os seus próprios adeptos, “arrebatados pelos ventos da destruição” e por eles prejudicados em sua “capacidade de produção e serenidade criadora”. Segundo o romancista de Macunaíma, existiam, porém, alguns modernistas que pretendiam construir e não destruir, citando Plínio Salgado como primeiro exemplo desses modernistas edificadores e dizendo que justamente por almejar construir e não demolir, Plínio “era posto de parte” pelos modernistas demolidores como ele, por isso jamais tendo posto os pés nos salões por eles frequentados. Do mesmo modo, de acordo com o poeta da Pauliceia desvairada e da Lira paulistana, Graça Aranha, que também “sonhava construir, se atrapalhava muito” entre tais modernistas, que, ademais, ficavam assombrados quando a “‘gente séria’” do grupo de Festa, do Rio de Janeiro, tomava a sério suas blagues e arremetia contra eles. 

Consoante sustentou, cheio de sinceridade, o autor de A escrava que não é Isaura, o movimento de Inteligência que ele e outros representavam naquilo que considerava ser sua fase “verdadeiramente modernista” não foi o fator das mudanças político-sociais posteriores a ele no Brasil. Segundo ele, a “normalização do espírito de pesquisa estética, antiacadêmica, porém não mais revoltada e destruidora”, foi a seu ver “a maior manifestação de independência e de estabilidade nacional que já conquistou a Inteligência brasileira”. Em seus dizeres,

como os movimentos do espírito precedem as manifestações das outras formas da sociedade, é fácil de perceber a mesma tendência e conquista de expressão própria, tanto na imposição do verso livre antes de 30, como na “marcha para o Oeste” posterior a 30; tanto na Bagaceira [de José Américo de Almeida], no Estrangeiro [de Plínio Salgado], na Negra Fulô [de Jorge de Lima] anteriores a 30, como no caso da Itabira e a nacionalização das indústrias pesadas, posteriores a 30. 

Ainda no referido ano de 1922, Plínio Salgado dedicou-se à leitura das obras de diversos autores de vanguarda europeus, como Filippo Tommaso Marinetti, Ardengo Soffici, Corrado Govoni, Giuseppe Ungaretti, Guillaume Apollinaire, Jean Cocteau, Max Jacob e Blaise Cendrars. Ao contrário de muitos modernistas pátrios, porém, jamais copiou ele as ideias desses autores, sempre entendendo que é necessário criar com elementos genuinamente brasileiros uma arte genuinamente brasileira.

Em 1923, Plínio foi citado como um dos mais importantes poetas novos do nosso País, na conferência “O esforço intelectual do Brasil contemporâneo, proferida por Oswald de Andrade na Sorbonne, em Paris. Ainda nesse ano, foi lançada a revista modernista Novíssima, dirigida por Cassiano Ricardo e Francisco Pati. Plínio colaborou nesse importante órgão do Modernismo desde o primeiro número, nele publicando importantes artigos de crítica literária. A partir do número 7 (setembro/outubro de 1924), o subtítulo de Novíssima, que até então era “Revista de arte, literatura, sociedade, política”, passou a ser “Modernismo. Nacionalismo. Ibero-Americanismo” e a partir do Ano II, em 1925, a indicação dos diretores da revista foi substituída por aquela dos seus orientadores literários, que eram Cassiano Ricardo, Menotti Del Picchia e Plínio Salgado. No seu último ano de existência (1926), Novíssima tornou-se o principal órgão difusor das ideias do Verde-Amarelismo ou Movimento Verde-Amarelo. 

Além de Plínio Salgado, Menotti Del Picchia, Cassiano Ricardo e Francisco Pati, colaboraram nas páginas de Novíssima, dentre outros, Alfredo Ellis Junior, Alarico Silveira, Cândido Motta Filho, Guilherme de Almeida, Ribeiro Couto, Valdomiro Silveira, Monteiro Lobato, Afonso d’Escragnolle Taunay, Afonso Schmidt, Manoel Vítor, Spencer Vampré, Fernando Callage, Roque Callage, Hermes Fontes, Álvaro Moreyra, Carlos Maul, Clóvis Beviláqua, Medeiros e Albuquerque, Oswald de Andrade e os poetas parnasianos Alberto de Oliveira, Vicente de Carvalho, Martins Fontes, Goulart de Andrade e Afonso Lopes de Almeida, além do pintor Lasar Segall, de origem judaica e nascido na Lituânia; do poeta franco-suíco Blaise Cendrars; do jornalista, escritor e poeta António Ferro, um dos mais importantes vultos do modernismo português, que futuramente seria o grande dinamizador cultural do Estado Novo de Salazar; do escritor e poeta argentino Manuel Gálvez e de outras figuras ilustres das letras da América de fala castelhana. 

Havendo mencionado o nome de Oswald de Andrade entre os colaboradores da revista Novíssima, julgamos ser mister assinalar que Plínio Salgado colaborou na Revista de Antropofagia, que dirigida por Alcântara Machado, era o órgão do Movimento Antropofágico, liderado por Oswald e de cujas posições Plínio discordava profundamente, embora reconhecendo que “suas intenções eram puras, de verdadeiro nacionalismo, de forte brasilidade”. Reputamos ser necessário salientar, do mesmo modo, que, se Plínio Salgado pode ser considerado o modernista equilibrado e construtor por excelência, o autor de Serafim Ponte Grande (Oswald de Andrade), foi e é, sem dúvida alguma, o mais radical e demolidor dos modernistas pátrios. O estilo de prosa desenvolvido por Oswald nas obras Os condenados (1922) e Memórias sentimentais de João Miramar (1924) foi uma das inspirações de Plínio Salgado para escrever seu romance O estrangeiro (1926), mas vale ressaltar que o estilo desenvolvido por Plínio Salgado neste romance, e que se tornou o modelo, a forma definitiva do Modernismo na prosa, é bastante superior ao de Oswald, como, aliás, bem frisou Jamil Almansur Haddad em importante estudo sobre o Modernismo: 

Dos romancistas da hora paulista da Semana ocorre nos lembrar de Oswald de Andrade, a quem deve o modernismo brasileiro, no tocante ao romance, algumas inovações de monta e aproveitadas de perto por Plínio Salgado que aliás o sobreleva por sua linguagem mais saborosa e por uma realização como O estrangeiro, romance que posto na linha de Canaã [de Graça Aranha] focaliza um dos aspectos da chamada realidade brasileira, uma das realidades do nosso meio: a Imigração.

Em novembro de 1921, quando já era redator do Correio Paulistano, Plínio Salgado realizou uma viagem à região da Araraquarense, acompanhando o Dr. Alarico Silveira e o Professor Guilherme Kuhlmann, respectivamente Secretário do Interior e Diretor Geral da Instrução Pública do Estado de São Paulo. Tal viagem inspirou Plínio a escrever um belo artigo publicado no Correio Paulistano, intitulado “A terra jovem” (“joven” na grafia de então), e também o romance O estrangeiro, como ressaltou o próprio escritor sambentista, em entrevista dada a Silveira Peixoto.

O monumental romance O estrangeiro, que é, cronologicamente, o primeiro romance social em prosa modernista da Literatura Brasileira, assim como a primeira grande realização romanesca do Modernismo e o maior romance da década de 1920 em nosso País, foi publicado em 1926, pela Editorial Helios Limitada, de São Paulo. Como salientaria Menotti Del Picchia, o romance de estreia de Plínio Salgado “confirmou-se como um marco renovador do romance brasileiro”, abrindo “a série das grandes obras que, num radioso renascimento de um sadio nacionalismo, escachoaram do Norte tendo na vanguarda a já histórica Bagaceira de José Américo de Almeida”. Este último escreveu a Plínio uma carta em que afirmou que depois de haver lido O estrangeiro considerara esta obra o primeiro romance, em importância, do Modernismo e resolvera reescrever totalmente o seu livro A bagaceira, que viria a ser publicado em 1928.

O estrangeiro, maior poema em prosa do Modernismo Brasileiro, teve um sucesso verdadeiramente extraordinário. A primeira edição se esgotou em menos de vinte dias e o burburinho que se fez em torno da obra na imprensa nacional foi algo verdadeiramente notável. Plínio Salgado, porém, ignoraria tudo o quanto então se publicava a respeito dele e de sua revolucionária obra, não fosse por seu amigo Fernando Callage, que colecionava todos os artigos, uma vez que, naquela ocasião, em São Bento do Sapucaí, falecia a mãe de Plínio, D. Ana Francisca, que, estando já à beira da morte, tomou o livro do filho nas mãos, projetando lê-lo mais tarde, quando estivesse melhor, o que, no entanto, infelizmente não ocorreu.

Considerado por Wilson Martins a maior realização romanesca brasileira da década de 1920, ao lado de O esperado, também de Plínio Salgado, e classificado por Rachel de Queiroz como “o primeiro romance modernista”, O estrangeiro, que seria considerado pelo autor o seu primeiro Manifesto Integralista, fez do futuro criador da Ação Integralista Brasileira um escritor nacionalmente consagrado, tanto pelo público quanto pela crítica. Como observou, neste mesmo diapasão, Genolino Amado, “raros livros suscitaram, entre nós, tanto ardor e interesse” quanto O estrangeiro. Quando o livro surgiu, houve, na Capital Bandeirante, “um reboar de palmas festivas” e “a solicitação de aplausos quase unânimes saudou a admirável criação de Plínio Salgado”. Foi, nas palavras do escritor e jornalista sergipano, “uma consagração instantânea”.

Dentre os diversos críticos literários, escritores e pensadores de renome que elogiaram O estrangeiro na imprensa pouco depois da publicação de tal obra, posso citar Agripino Grieco, Monteiro Lobato, Afrânio Peixoto, Tasso da Silveira, Augusto Frederico Schmidt, Cassiano Ricardo, Nuto Sant’Anna, Jackson de Figueiredo, Rodrigues de Abreu, Tristão de Athayde (Alceu Amoroso Lima), Brito Broca, Roque Callage, Nestor Victor, Francisco Pati, Oliveira Vianna, Cândido Motta Filho, Andrade Muricy, Murillo Araújo, Luiz Delgado, Sud Menucci e os já mencionados José Américo de Almeida, Menotti Del Picchia e Genolino Amado.

Monteiro Lobato dedicou ao romance O estrangeiro um magnífico artigo intitulado “Forças novas” e publicado no jornal A manhã, do Rio de Janeiro, aos 19 de setembro de 1926. Em tal artigo, o autor de Urupês e de Cidades mortas, havendo reconhecido que “Plínio Salgado consegue o milagre de abarcar todo o fenômeno paulista, o mais complexo do Brasil, talvez um dos mais complexos do mundo, metendo-o num quadro panorâmico de pintor impressionista”, enfatizou que “todo o livro é uma inaudita riqueza de novidades bárbaras, sem metro, sem verniz, sem lixa acadêmica – só força, a força pura, ainda não enfiada em fios de cobre, das grandes cataratas brutas”. Por fim, terminou o escritor patrício o seu artigo sobre o romance-poema O estrangeiro afirmando que “Plínio Salgado é uma força nova com a qual o país tem que contar”.

No ensaio “Renovação”, publicado na já aqui citada revista Festa em 1927 e depois transcrito na sua obra Definição do Modernismo Brasileiro, Tasso da Silveira classificou Plínio Salgado, assim como, dentre outros, Ribeiro Couto, Cassiano Ricardo e os autores do próprio grupo de Festa, como membro da terceira corrente do Modernismo, que, conforme Tristão de Athayde, era marcada pelo espiritualismo e pela mística criadora, constituindo-se na única corrente verdadeiramente fecunda e renovadora em nossas letras. Segundo ele, “renovação é”, dentre outras coisas,

a realidade no seu momento prodigioso de condensação, em que todas as energias se desencadeiam, compõem e recompõem, — que representa O estrangeiro de Plínio Salgado, valor inconfundível e dos mais altos deste momento.

No artigo “A enxurrada”, estampado na revista Festa em janeiro de 1928 e igualmente transcrito nas páginas de Definição do Modernismo Brasileiro, Tasso da Silveira observou que a “onda renovadora” palpitava, dentre outras criações modernistas, “nas almas pisadas e nas folhagens pisadas, rescendentes a trópico, desse admirável Plínio do Estrangeiro”.

Diante do grande êxito alcançado pelo romance O estrangeiro, Cassiano Ricardo, Menotti Del Picchia, Alfredo Ellis Jr., Cândido Motta Filho, Raul Bopp, Mário Graciotti, Jaime Adour da Câmara e outros intelectuais de escol homenagearam Plínio Salgado numa bela cerimônia realizada na sede do jornal Correio Paulistano, em que Menotti Del Picchia proferiu um discurso em honra do grande romancista paulista e brasileiro e foi dada a este uma estatueta em bronze de José Cucé retratando o personagem Juvêncio, de O estrangeiro, a estrangular os papagaios que não paravam de cantar o hino fascista Giovinezza. Em seguida, Plínio Salgado leu sua histórica e memorável conferência A Anta e o Curupira, documento que foi o responsável pelo surgimento do Movimento Verde-Amarelo, e em que ressaltou a necessidade de criação de uma arte essencialmente brasileira, afirmando que tudo procuravam os artistas brasileiros, menos a si mesmos, nunca havendo sido tão novo o velho dito de Sócrates sobre o autoconhecimento, assim como sustentou que era preciso proclamar a nossa independência intelectual:

Precisamos crer com entusiasmo nas possibilidades imensas do Brasil; e, longe de continuarmos a viver como lunáticos, preocupados com os deuses da Grécia, com os versos de Virgílio, batizando-nos crentes de todas as filosofias estrangeiras e fanáticos pelas ideologias exóticas e sugestões de outros climas, — procuremos compreender a Nossa Terra, para nela descobrirmos as bases de uma cultura exclusivamente nossa, senso de realidades sociais e jurídicas, artísticas e morais. Proclamemos a nossa independência intelectual! 

Consoante restou dito há pouco, diversos escritores, críticos literários e pensadores notáveis elogiaram o romance O estrangeiro na imprensa nos meses que se seguiram à sua publicação. Aos justos elogios destes homens de letras e de pensamento ao primeiro grande romance modernista brasileiro, somar-se-iam, nas décadas seguintes ao seu lançamento, os elogios, igualmente justos, de outros ilustres escritores, críticos literários e pensadores, como Gerardo Mello Mourão, Jamil Almansur Haddad, Miguel Reale, Virgínio Santa Rosa, Mário de Andrade, Alberto de Oliveira, Afrânio Coutinho, Silveira Bueno, Silveira Peixoto, D. Arnoldo Nicolau de Flue Gut, Érico Veríssimo, Everardo Backheuser, Fernando Whitaker da Cunha, Austregésilo de Athayde, Augusta Garcia Rocha Dorea, Maria Amélia Salgado Loureiro, Zélia de Almeida Cardoso, Francisco Marins, Amândio César, Francisco Elías de Tejada e os já mencionados Wilson Martins e Rachel de Queiroz.

Uma das “obras fundamentais para a inteligência do modernismo”, como reconheceu o insuspeito Alfredo Bosi, O estrangeiro marcou sem dúvida, com o seu aparecimento, “uma nova fase da literatura nacional”, pois foi, nos dizeres de Fernando Callage, “um romance verdadeiramente revolucionário no bom sentido, abrindo horizontes novos à mentalidade indígena, até então imbuída de preciosismos e preconceitos”. 

Conforme bem sublinhou Augusta Garcia Rocha Dorea, na obra O romance modernista de Plínio Salgado, é na Tradição, no Passado Vivo, na História e nos mitos e lendas pátrios que está a realidade brasileira. Tendo consciência deste fato, Plínio Salgado procurou ressuscitar e reavivar tudo isso no coração de seus contemporâneos, despertando-os para um sadio e construtivo nacionalismo. A propósito, caso entendamos o termo “moderno” como oposto ao tradicional e à Tradição, poderemos afirmar que o Movimento Modernista Brasileiro, em sua vertente criadora e construtiva, que tem em Plínio Salgado um dos mais nobres e elevados arautos, é essencialmente antimoderno.

Posto isto, cumpre enfatizar que o autêntico Modernismo literário e artístico não pode ser confundido com outras formas de Modernismo e não se opõe de modo algum à autêntica Tradição e ao verdadeiro tradicionalismo e que é este autêntico Modernismo literário e artístico o Modernismo de Plínio Salgado, que, como notou a revista Hora Presente, sempre se voltou, em sua obra literária, para o Brasil Profundo, Autêntico e Verdadeiro e suas legítimas tradições.

Como sublinhou o magno jusfilósofo e doutrinador político tradicionalista castelhano Francisco Elías de Tejada, a “vocação de escritor egrégio” impeliu Plínio Salgado “à literatura, mas uma literatura a serviço dos ideais de um Brasil autêntico”, tendo sido o romance O estrangeiro não apenas “uma das cumiadas da literatura brasileira”, mas também “a necessária análise sociológica” da qual nasceria “um pensamento robustíssimo, o mais brasileiro que dar-se possa”. Ainda como fez notar o ilustre pensador político e jusfilósofo espanhol, ao analisar O estrangeiro, Jackson de Figueiredo apreendeu, com sua característica agudeza, o significado de tal obra, que, “acima dos seus maravilhosos méritos literários, e além do finíssimo estudo sociológico”, vem a ser “todo um programa político”, constituindo-se, na expressão do próprio Jackson de Figueiredo, em “um livro de esperança e de fé” na grande Pátria Brasileira.

Não é necessário dizer que esse “pensamento robustíssimo” e “esse programa político” de que nos falou Francisco Elías de Tejada não são senão o pensamento e o programa político do Integralismo, cumprindo lembrar que, como restou dito, Plínio Salgado afirmou que o romance O estrangeiro foi o seu primeiro Manifesto Integralista, assim como notou que a forma de tal obra exprime a influência da revolução literária e artística então em curso, enquanto em seu fundo delineia-se a revolução política. Ainda no dizer do futuro autor do Manifesto de Outubro e de Psicologia da Revolução, o romance-poema O estrangeiro se constitui em um “documento das fases que constituíram a Grande Véspera do surto integralista” e que foi “nessa Grande Véspera” que desencadeou ele “dois movimentos preparatórios do movimento decisivo de 1932”, isto é, do Integralismo. O primeiro de tais movimentos foi o Verde-Amarelismo, corrente nacionalista e construtiva do Modernismo a que também aderiram, dentre outros, Menotti Del Picchia, Cassiano Ricardo, Cândido Motta Filho, Alfredo Ellis Júnior e Alarico Silveira, enquanto o segundo foi o Movimento da Anta ou Revolução da Anta, corrente do Verde-Amarelismo fundada por Plínio Salgado que, entendendo que este movimento se estacionava num nacionalismo demasiadamente exterior e pictórico, passou a proclamar a urgente necessidade de um nacionalismo interior e intuitivo. Também participou do Movimento da Anta, em seus primeiros tempos, o poeta Raul Bopp, e o igualmente poeta Cassiano Ricardo também aderiu a tal ala do Verde-Amarelismo, com a qual, ademais, colaborou muito de perto o grande intelectual e polígrafo Alarico Silveira.

No mesmo sentido daquilo que afirmou Plínio Salgado, Tasso da Silveira, na fundamental obra integralista intitulada Estado Corporativo, notou que as origens do Movimento do Sigma “se confundem com as origens do movimento de renovação estética, de tão profunda significação criadora (…), com que os artistas e pensadores da geração a que pertenço abriram perspectivas ilimitadas para o espírito no Brasil”. Como igualmente observou o vate de Cântico ao Cristo do Corcovado, os primários não repararam em que, ao lado dos grandes poetas simbolistas brasileiros, surgiram também autores como Euclides da Cunha, Farias Brito, Alberto Torres e Nestor Victor. Do mesmo modo, ainda como salientou o autor de Definição do Modernismo Brasileiro, não repararam os primários no fato de que o chamado Movimento Modernista surgiu — “não obstante o puro caráter estesíaco de alguns de seus corifeus, e não obstante o ânimo destrutivo de alguns dos seus propugnadores” — o de uma profunda “fermentação de pensamento, não apenas estético, mas, principalmente, político, filosófico, religioso”. Segundo Tasso da Silveira, se os primários tivessem reparado nessas coisas, 

Teriam notado, sobretudo, que na obra de Plínio Salgado havia, não uma dispersiva multiplicidade de direções, como pareceu de começo, mas uma totalização de anseios, desejos e tendências, que forçosamente deveria corresponder, por ser uma totalização — a um qualquer sentimento particular profundo.

Isto posto, é mister salientar que não só integralistas como Plínio Salgado e Tasso da Silveira afirmaram que o Integralismo decorreu do movimento renovador que recebeu o nome de Modernismo, mas também não integralistas como Cassiano Ricardo e Lêdo Ivo, tendo, aliás, o próprio Mário de Andrade aduzido que a “radicação na terra”, gritada pelos modernistas demolidores “em doutrinas e manifestos”, não passava de um conformismo acomodatício, enquanto “a verdadeira consciência da terra”, fatalmente levava ao não conformismo e ao protesto, como no caso tanto dos integralistas quanto, segundo ele, de Paulo Prado com seu Retrato do Brasil e dos membros do Partido Democrático.

No ano de 1927, Plínio Salgado deu à estampa duas importantes obras modernistas, a saber, Discurso às estrelas e Literatura e Política. A primeira delas, que fora escrita antes de O estrangeiro, foi uma preparação dos trabalhos de teor pura e plenamente literário que da pena pliniana saíram nas páginas de O estrangeiro, O esperado, O cavaleiro de Itararé, Geografia sentimental e outros poemas em prosa, não se excluindo de tal lista, sob diversos aspectos, a sua Vida de Jesus. Também nesse ano foi publicado o importante livro verde-amarelista O Curupira e o Carão, contendo escritos de Menotti Del Picchia, Cassiano Ricardo e Plínio Salgado.

Em 1928, mesmo ano em que a convite de Júlio Prestes, candidatou-se e deputado estadual e foi eleito com grande votação, Plínio Salgado proferiu, no Centro Gaúcho de São Paulo, uma notável conferência sobre a literatura gaúcha, em que afirmou, dentre outras coisas, que, “em literatura, só será universal o que for profundamente nacional” e “só será nacional o que for espontaneamente local”, assim como deu o seguinte testemunho:

Um dia, desgarrando de uma época formalista, de um ambiente de preocupações livrescas, ao regressar à vida, fugindo da sombra mortífera das bibliotecas para o grande dia de sol de uma nova idade literária, foi que senti o meu país (…).

Despertei com a minha geração. Foi em 1922 que erguemos, em São Paulo, na memorável Semana de Arte Moderna, o grito de liberdade contra todos os preconceitos do Passado; contra o academicismo artificioso; contra a mecanização dos processos de estilo, contra as cansadas filosofias ocidentais. E, desde então, começamos a ler no livro aberto da vida nacional, as verdades humanas essenciais. Fugimos das bibliotecas, para a ingressar no seio do povo brasileiro, do qual a Velha Mentalidade estivera divorciada, desde o início da nossa formação, divórcio muito mais agravado no fim do século passado, com as expressões filosóficas e literárias que assinalaram nossa literatura, nossa política e nossa arte de então. A um conceito clássico, estaticista do idioma, opusemos a concepção clara e dinâmica da língua brasileira, em função histórica de existência e de transformação. Aos ritmos impostos por uma técnica puramente convencional oferecemos, em substituição, a liberdade bárbara dos amplos ritmos selvagens, oriundos da própria vida social relacionada com as fatalidades geográficas e econômicas.

Criamos um novo sentido de humanidade brasileira e de brasilidade humana. E, passado o primeiro momento de excessos na destruição e de exageros na construção apressada de uma arte provisória, de uma literatura de emergência, chegamos à perfeita compreensão de uma cultura, de uma forma, de uma nacionalidade livres, e, ao mesmo tempo, sujeitas às leis fatais de que nos havíamos afastado, por um erro secular de educação. 

Em julho de 1929, o eminente autor de O estrangeiro e de Literatura e política (Plínio Salgado) tomou posse na Academia Paulista de Letras, ocupando a cadeira de número seis, cujo patrono é Couto de Magalhães, a quem muito admirava, e para a qual fora eleito à revelia, como então se usava naquela instituição.

Isto posto, cumpre enfatizar que Plínio Salgado jamais se candidatou ou pretendeu se candidatar a membro de qualquer Academia de Letras, somente havendo ingressado na Paulista por ter sido eleito à revelia, mas pertenceu a diversas instituições científicas e culturais, a exemplo do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, que, aliás, prestou uma belíssima homenagem ao bardo e romancista de O estrangeiro e O esperado por ocasião do centenário de seu nascimento, no ano de 1995.

Em 1931, foi publicado o segundo romance de Plínio Salgado, O esperado, que, se não teve a mesma repercussão do primeiro romance, não deixou, no entanto, de ser um sucesso de público e de crítica, considerado por Tristão de Athayde “uma obra vigorosa, intensa, vívida e que ficará como um documento considerável do momento social que vamos vivendo”, assim como “um livro poderoso e impressionante, que é um retrato trágico do Brasil de hoje”.

Assim como O estrangeiro, O esperado é um magnífico poema em prosa e, como sublinhou José Osório de Oliveira, “os três grandes romances que constituem as Crônicas da Vida Brasileira de Plínio Salgado: O Estrangeiro, O Esperado e O Cavaleiro de Itararé, são verdadeiros romances-poemas”, afirmação que, a propósito, é igualmente válida para as demais realizações romanescas do vate de A voz do Oeste.

Em 1933, Plínio Salgado deu à estampa o romance O cavaleiro de Itararé, com o qual fechou essa sua monumental trilogia Crônicas da Vida Brasileira, e no ano seguinte lançou um novo livro romanesco, o também monumental A voz do Oeste, romance-poema que se constitui numa das mais importantes obras da Literatura Pátria sobre os bandeirantes e que, segundo Juscelino Kubitschek de Oliveira, amigo e grande admirador de Plínio Salgado, inspirou e preparou a construção de Brasília.

Ainda na década de 1930, Plínio Salgado escreveu mais um formidável romance modernista, Trepandé, que, no entanto, só seria publicado na íntegra em 1972, pela Livraria José Olympio Editora, do Rio de Janeiro. Um dos capítulos do livro, porém, foi dado à estampa em maio de 1939, com belas ilustrações da grande pintora modernista Anita Malfatti, no primeiro número da excelente revista Cadernos da Hora Presente, dirigida por Tasso da Silveira. Anita Malfatti, que figurava entre os redatores da citada revista, nutria grande respeito por Plínio Salgado e sua obra, como nos disseram Genésio Pereira Filho e o poeta Paulo Bomfim, que com ela conviveram. Outro notável pintor modernista que ilustrou escritos de Plínio Salgado foi Fulvio Pennacchi, autor das ilustrações da terceira edição da Vida de Jesus. Tanto Anita Malfatti quanto Pennacchi tinham uma boa relação com Plínio e o mesmo pode ser dito de três outros importantíssimos pintores modernistas brasileiros, a saber, Cândido Portinari, Tarsila do Amaral e Vicente do Rego Monteiro. Este último, aliás, foi um grande simpatizante do Integralismo e fez um belo desenho de Plínio, publicado no jornal tradicionalista Fronteiras, de Recife, enquanto Tarsila retratou Plínio Salgado, assim como outros vultos do Modernismo, no célebre quadro Operários, de 1933.

Sadiamente modernistas são não apenas os romances de Plínio Salgado, mas todas as suas obras publicadas depois de Tabor, do Poema da Fortaleza de Santa Cruz (1939) e dos Poemas do século tenebroso (1961) a ensaios como Psicologia da Revolução (1933) e Espírito da burguesia (1951), e assim como de Contos e fantasias (1956) à grandiosa Vida de Jesus, autêntica “joia de uma literatura”, como escreveu o Padre Leonel Franca.  

Em 1962, quando a Semana de Arte Moderna de 1922 completou quarenta anos, Menotti Del Picchia, então deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), proferiu, na Câmara dos Deputados, em Brasília, um belo discurso um belo discurso em homenagem a esse importante evento da nossa História. Em longo e excelente aparte ao velho amigo e companheiro de ideais nacionalistas, estéticos e literários, Plínio Salgado, então deputado federal pelo Partido de Representação Popular (PRP), agremiação política de que era o presidente e que levava adiante os princípios essencialmente cristãos e brasileiros do Integralismo, ressaltou que a Semana de Arte Moderna de 1922 foi “um dos acontecimentos mais notáveis da vida cultural brasileira”. Em seguida, destacou que tanto o nosso Romantismo quanto o nosso Simbolismo foram precursores do nosso Modernismo, o primeiro pelo “caráter de transbordante nacionalismo” que adquiriu em terras brasileiras, patente sobretudo nas obras de Gonçalves Dias e de José de Alencar, e o segundo porque “penetrou mais fundo nas almas, foi buscar mais fundo as raízes recônditas do nosso espírito”. Um pouco adiante, ao tratar dos diversos movimentos modernistas surgidos depois de 1922, o autor de O estrangeiro assim afirmou:

esse movimento, que surgiu em 1922, com ímpeto de renovação, com ímpeto de renovação, pouco depois dividia-se em várias outras correntes. Entre essas correntes temos de memorar o Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, o notável escritor autor de Serafim Ponte Grande, das Memórias sentimentais de João Miramar, de Mário de Andrade, tão típico e tão pessoal na sua forma literária. Mas nós, Sr. Deputado, com Cassiano Ricardo, Motta FIlho, Alfredo Ellis, Raul Bopp, desfraldamos a bandeira do verde-amarelismo, que queria capitalizar para o nacionalismo brasileiro a nova revolução literária e artística do Brasil. Aquele movimento verde-amarelo foi o precursor de todo o nacionalismo existente hoje no País.

Rasgou novos horizontes para a Pátria. Lembro-me perfeitamente de que, nas vésperas da revolução de 1930, nós nos reunimos no Correio Paulistano dispostos a lançar um manifesto à Nação para reformas profundas de ordem institucional e de ordem cultural. Juntos batalhamos incessantemente. Outras escolas surgiram, como o grupo de Festa, no Rio de Janeiro, com Tasso da Silveira e Andrade Muricy, ou como o grupo de Cataguases. Marcamos, porém, uma etapa decisiva da vida nacional, fazendo confluir os anseios da reforma literária e artística com os anseios sociológicos de reformas sociais e institucionais da Nação.

Tendo proferido tais palavras e falado também do já aqui aludido Movimento da Anta, Plínio Salgado assim sustentou, encerrando seu aparte:

Tudo isto é belo recordar. Quarenta anos, Sr. Deputado, quarenta anos de incessante amor à Pátria, de incessante culto à beleza, em que o nome de V. Excia fulgura como estrela de primeira grandeza. (Muito bem) Não poderia deixar de dar este aparte, para rememorar o que realizamos e principalmente o muito que fizemos no campo concreto do romance e da poesia, quando muitos se perderam apenas em teorias ou meros manifestos doutrinários, sem qualquer realização. Esta a grande verdade do movimento modernista de 1922. Encanto-me de ouvir V. Ex.ª. e quero aqui, erguendo loas ao seu valor, relembrar aqueles que conosco estiveram firmes na estacada por uma revolução cultural e integral de nossa Pátria, abrangendo todos os círculos, desde a cultura até a administração, a política e as instituições brasileiras. (Muito bem. Palmas).

Em 1972, quando o Brasil celebrou o cinquentenário da Semana de Arte Moderna de 1922, Plínio Salgado, então deputado federal pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), proferiu, na Câmara dos Deputados, em Brasília, um brilhante discurso sobre esse tão significativo acontecimento da nossa História Cultural, em que expôs uma narrativa do que foram os movimentos de renovação artística e literária ao longo dos séculos, a fim de inserir a Semana de 1922 em seu verdadeiro lugar. Tendo apresentado uma excelente síntese de todos esses movimentos e, em particular, do Modernismo Brasileiro, Plínio Salgado assim fechou, com chave do mais puro ouro, a sua memorável oração a respeito da Grande Semana de 1922:

Não poderei (…) terminar esta minha conversa entre amigos sem dizer uma coisa da maior significação. Está escrito no Evangelho de São João, no 1° capítulo e primeiros versículos, o seguinte:

“No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. E todas as coisas foram feitas com Ele. E nada do que se fez foi feito sem Ele.” 

Pergunto: por que Verbo? Por que motivo o Verbo estava com Deus e fez todas as coisas? Senhores Deputados, o Verbo traduz a necessidade de expressão, de revelação. O universo é uma representação teatral maravilhosa com suas constelações, estrelas e planetas girando constantemente no mais perfeito equilíbrio e na mais divina harmonia. A história humana é também um teatro, uma representação.

Nós surgimos no palco da História, desempenhamos o nosso papel e, assim como entramos pelos bastidores do nascimento, saímos pelos bastidores da morte; mas desempenhamos o papel que nos coube. Os povos desempenham também o seu papel.

Ao estudarmos as civilizações, desde as mais antigas, verificamos que cada povo teve necessidade de revelar-se. Então, a arte, a pintura, a escultura arquitetura, a música, a poesia, o romance, a oratória, tudo isso é obra de criação do Verbo, do Verbo que está em Deus e fez todas as coisas e nós na centelha do nosso pensamento, na vibração do nosso sentimento. É preciso revelarmo-nos.

Uma estátua é um discurso. Olhando para o Moisés ou para a Pietà de Michelangelo, ou olhando para a Mona Lisa de Leonardo da Vinci, ou telas de Rafael ou, mais remotamente, para as pinturas de Zêuxis ou para a estatuária de Fídias, percebemos que eles quiseram dizer isto: eu vi, senti, exprimi assim.

O verbo, portanto, é vontade e forma de expressão. Vontade de falar, falar pelas estátuas, falar pela pintura, falar pela música, falar pelos romances, falar pelas poesias. Necessidade de falar. Os povos que assim não procederam desapareceram misteriosamente na História. Assim aconteceu com os hititas; assim aconteceu com os urartianos. Não deixaram poesias; não deixaram estátuas; nada deixaram. Somente o trabalho dos arqueólogos, a partir do Século XIX, vem encontrar em inscrições cuneiformes de assírios ou nos hieróglifos egípcios a história dessas gentes que desapareceram. Entretanto, o Egito está presente conosco. A Grécia está presente na Vênus de Milo, na Vitória de Samotrácia, no Apolo do Belvedere, no delineamento de Partenon, nas tragédias de Sófocles e de Ésquilo, na poesia de Píndaro, na história de Tucídides e de Heródoto. Vivem porque falaram. E a fala dos homens se renova como a natureza. Se a natureza se transforma constantemente é imperativo que, na ânsia de se exprimir, o homem busque novas maneiras de manifestar seu pensamento, suas impressões, seus sentimentos.

Eis por que, ao celebrarmos o cinquentenário da Semana de Arte Moderna, que foi um instante de inquietação e de procura de novos caminhos para novas expressões, quero concitar nossa Pátria para que fale, para que se exprima, para que, através dos seus artistas, pensadores, oradores, poetas, escritores de todos os gêneros, diga: eu sou, eu existo, eu sou assim. Essa é particularmente a missão do artista. Benditas as gerações que se preocuparam e se inquietaram e se desesperaram em busca de novas expressões. Benditos os povos que possuem Parlamentos como o nosso, que interrompe sua preocupação legislativa ou seus debates políticos para cultuar aquilo que é mais nobre, mais belo no espírito humano: o Verbo. O Verbo que estava com Deus e era Deus, com o qual foram feitas todas as coisas e sem o qual nada feito. Sejamos assim, sintamos em nós e nossa Pátria sinta a vibração permanente do Verbo ou a necessidade perene da expressão. (Muito bem; muito bem. Palmas. O orador é cumprimentado.)

Já havendo nos estendido além, muito além daquilo que inicialmente pretendíamos, encerramos aqui nosso singelo artigo sobre Plínio Salgado, a Semana de 1922 e o Modernismo, ressaltando que o imortal bardo de O estrangeiro e O esperado, maior e mais injustiçado dos romancistas e poetas em prosa do Movimento Modernista, cantou como nenhum outro em sua obra o Brasil Integral e as suas mais lídimas tradições, sabendo conciliar como ninguém o autêntico tradicionalismo político e o autêntico modernismo literário.

 

 

Victor Emanuel Vilela Barbuy*,

São Paulo, 26 de fevereiro de 2022.

 

*Victor Emanuel Vilela Barbuy é advogado, escritor e professor universitário. Mestre e Doutor em Direito Civil, na área de História, pela Universidade de São Paulo (USP), é, dentre outras coisas, Presidente da Ação Brasileira de Cultura (ABC), membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e do Instituto Histórico e Geográfico de Santos e conselheiro do Comitê de Civismo e Cidadania da Associação Comercial de São Paulo, da Casa de Plínio Salgado, de que foi Primeiro Vice-Presidente e Presidente e Presidente em exercício, e da Frente Integralista Brasileira, onde ocupou os cargos de Secretário Nacional de Doutrina e Estudos, Vice-Presidente e Presidente e atualmente ocupa o cargo de Secretário Nacional de Assuntos Jurídicos.

 

OBS: O presente artigo, originalmente publicado no portal da Frente Integralista Brasileira (FIB), deve ser reproduzido ainda este ano num livro que igualmente se chamará Plínio Salgado, a Semana de 1922 e o Modernismo

 

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